Retomando uma velha tradição da Quaresma, que já estava adormecida há uns anos, um grupo de mogadourenses, motivados pela iniciativa do José Oliveira (conhecido pelos amigos como Zé Canelas), têm andado por estes dias a cantar as almas pelas encruzilhadas da vila de Mogadouro. O grupo é composto por uma miscelânea de juventude e experiência dos mais velhos. É de assinalar esta injecção de sangue novo, pois assim fica garantida a continuidade desta prática ancestral.
Ontem à noite, permitiram-me a recolha de imagens e vídeo. Fica aqui o meu agradecimento a todos os participantes pela amabilidade. Agradeço igualmente ao Francisco Pinto pela cedência do equipamento vídeo.
Para os que nunca ouviram, ou que não conhecem esta costumeira, o "cantar das almas" tem lugar nesta altura do ano e desenrola-se quando, supostamente, toda a comunidade já se encontra adormecida. O grupo (misto) meio encoberto por xailes e capotes escuros, percorre as ruas das localidades e escolhe locais estratégicos onde vai entoando os cânticos em tom dolente de súplica, rogando a salvação das almas e o zelo pelos vivos.
A origem é indeterminada, embora os estudiosos se inclinem para a sua localização cronológica na chamada Idade Média.
Com mais ou menos variação regional, os versos são idênticos por toda a parte. Deixo aqui o primeiro e mais comum:
"À porta das almas santas/
Bate Deus a toda a hora/
As almas lhe responderam/
Ó meu Deus, que quereis agora?"