Aquando da visita a Saldanha, falei aqui da ara votiva ali encontrada. Hoje, depois de ter adquirido a magnífica obra de Maria Olinda Santana sobre a correspondência trocada entre António Maria Mourinho e Santos Júnior, fiquei a conhecer a interessante perspectiva do sacerdote e ilustre arqueólogo mirandês sobre a mesma.
Em missiva datada de 30-09-1966, o padre Mourinho, entre outras coisas, citando JL Vasconcellos, diz que a palavra "Depulsor" (adjectivo qualificativo do deus Júpiter) significa "o que afasta os males". A essa característica, digo eu, não será totalmente alheia a profusão ilustrativa do teixo estilizado na parte superior da lápide.
A leitura que o insigne mirandês fez da inscrição constante da ara é a seguinte:
"I(ovi) D(ptimo) M(aximo) D(epulsori)
DOMITIUS
PEREGRINUS
VET.(eranus) LEG(ionis) VII
GEM(inae) P(iae) F(elicis)
V(otum) S(olvit) L(ibens) M(erito)"
Mas, o mais curioso, é que em missiva posterior, de 13-03-1967, o pároco escreve o seguinte:
"Se por acaso utilizou a minha carta para publicação era favor acrescentar naquele VET...i de VET., que não deve ser VETERANUS, mas VET(ONIS) nome étnico que costuma acompanhar PEREGRINUS, mesmo para designar os estrangeiros aceites no exército romano a partir do império(...)"
Esta versão levanta algumas questões interessantes, pois, tal como refiro no meu livro sobre Bruçó, há autores espanhóis que colocam uma parte do nosso concelho em território dos Vetões (alicerçados nos achados arqueológicos de Vila dos Sinos). É uma discussão que, quanto a mim, permanece em aberto.