Aqui, executam a dança ritual de sacudir os chocalhos, enquanto saltam e emitem sons guturais.
A indumentária é tal e qual como a que Santos Júnior descreveu na caracterização que nos legou do carêto de Valverde. Encontram-se lá todos os elementos integradores do espírito solsticial: a serpente, os cornos, a cor vermelha e os chocalhos (que, como já aqui foi dito, possuem carácter apotropaico, isto é, servem para afastar os maus espíritos da comunidade).
À despedida, tive oportunidade de trocar dois dedos de conversa com o amigo Valdemar, que me transmitiu um pouco da história e me contou que quando a aldeia era pujante, o chocalheiro perseguia os mais novos e obrigava-os a refugiarem-se em casa. A rapaziada persistia e voltava a cirandar atrás dele. A localidade enchia-se de barulho e alegria. Conta-me minha mãe que minha avó materna, que era natural de Vale de Porco, apanhou medo ao chocalheiro em criança e, mesmo de adulta, já em Bruçó, recusava-se a encarar de frente com os "Velhos", mandando meu avô a dar-lhes a esmola.
Aqui, o "Chocalheiro" também dá a volta ao povo, a pedir esmola para o Menino.
A tradição corre risco de desaparecer. Tem-lhe valido a perseverança de Dulcíneo Rodrigues, o alcaide local, que tem batalhado pela sua manutenção e divulgação. No futuro, e com a agregação da freguesia de Vale de Porco à de Mogadouro, vamos ver o que sucederá a esta festividade milenar...
À entrada do termo, o autarca mandou erigir um pequeno monumento à figura solsticial, mas,
como se pode observar, o fanatismo religioso e a proverbial estupidez humana não dão para mais...
Fotos: Antero Neto.