A receitinha:
Tomem dois pães duros e cortem-nos em pedacinhos. Ao lume ponham água com açucar em um tacho e levem-no à fervura; é então que deitam dentro o pão partido, deixando ferver um pouco mais, sempre mexendo.
Deitam em seguida meia garrafa de bom vinho e dois decilitros de mel, mexendo sempre e deixando ferver um pouco mais. Quando o doce estiver na consistência pastosa de uma açorda, retirem do lume e deixem-no esfriar um pouco.
Deitem então uma dúzia de gemas de ovos, previamente batidas. Para bem executar esta operação é preciso que os ovos fiquem intimamente misturados no doce e para esse efeito é indispensavel deitar os ovos em fio e mexer sempre.
Levem depois novamente o tacho ao lume a cozer o ovo, mexendo constantemente, retirem, ponham na travessa e espalhem canela em pó por cima.
Os formigos comem-se frios.
Já um morto ressuscitou para comer formigos" - Trindade Coelho, in "O Senhor Sete".
Formigos (foto: Clube de Vinhos Portugueses)
Confesso que antes de casar nunca tinha ouvido falar dos formigos (a minha esposa é minhota). E da versão trindadeana só tomei conhecimento aquando das comemorações do centenário da morte do escritor, através de uma palestra feita na Casa da Cultura pela eng.ª Tereza Sanches, Vereadora da Cultura da CMM, e especialista na obra e vida de Trindade Coelho, a quem, de resto, agradeço a edição que possuo do livro citado.
Sei que o meu amigo Pimenta de Castro tem em mãos um interessante projecto que vai explorar a faceta gastrónoma do ilustre contista mogadourense. Fico a aguardar com expectativa o livro, que será, com toda a certeza, mais uma magnífica obra a enriquecer o espólio cultural da nossa terra.