Começo por Vilarinho dos Galegos. Na demanda de recolhas para o meu livro sobre os judeus, fui bater à porta de D. Alice. Calhou estar a encher alheiras.
Recolhidos os preciosos depoimentos para o objecto do estudo, foi tempo de divagar. Deliciosa divagação. Fiquei a saber que o "Mascarão e a Mascarinha" ainda não desapareceram assim há tanto tempo e embrenhei-me nos seus meandros. D. Adelaide aproveitou para me "picar" dizendo que as tradições de Vilarinho são mais ricas e bonitas que as de Bruçó. Fui "encaixando" com fair play. O que elas não sabiam e eu também só descobri hoje é que, apesar de ter nascido em Bruçó, fui "fabricado" em Vilarinho. Agora percebo a minha simpatia natural por aquela terra e aquelas gentes... Foi uma tertúlia muito agradável, à volta das chouriças. Bem hajam. D. Alice revelou-se, além de preciosa fonte de informação, uma impagável contadora de histórias.
Dali, rumámos a Vilar Seco, bonita aldeia do concelho de Vimioso que preserva características arquitectónicas de rara beleza por estas bandas, e onde ainda se observam marcas únicas de ancestralidade rural transmontana.
O dia terminou em Palaçoulo, onde a Troika local nos voltou a acolher com a sua já proverbial hospitalidade, que faz inteiro jus ao espírito transmontano na sua face mais pura e genuína.
Para completar estes "quadros", fui até ao berço, onde minha mãe me falou de arcanas tradições carnavalescas das nossas aldeias. E veja-se como das conversas mais inocentes, por vezes se faz luz. Amadeu Ferreira tinha comentado que o topónimo "Barreira" tinha a ver com portagens. Como a estrada mourisca passa ao lado da aldeia, sempre me interroguei de onde viria o nome da minha rua. E foi então que minha mãe me contou que antigamente, na quadra carnavalesca, a mocidade de Bruçó se juntava para os chamados "casamentos". E havia um ritual que se desenrolava junto ao ribeiro, ao fundo da Rua da Barreira. E consistia esse evento em os rapazes montarem uma espécie de portagem nesse local, que os menores de idade só eram autorizados a ultrapassar depois de pagarem uma quantia em dinheiro. Como era um ritual masculino, não me soube contar todos os pormenores. Fica para a próxima visita, em que espero que o meu vizinho, Manel Alípio, me elucide com mais detalhe.
Fotos: Antero Neto.