Porque tive que a fazer a pedido, aproveito-a para o blog:
MOGADOURO – BREVE RESENHA HISTÓRICA
1. Das origens e do topónimo
O concelho de Mogadouro é
território com sinais de ocupação humana que remontam, pelo menos, ao IV.º
milénio a.C.. Aqui podem encontrar-se pinturas e gravuras rupestres,
petróglifos do Neolítico, mamoas, inúmeras povoações castrejas (Idade do Ferro),
diversos legados da ocupação romana (assentamentos, lápides, vias), esculturas
zoomorfas, etc.
Quanto ao topónimo “Mogadouro”: a
explicação da sua origem é difusa. Um primeiro estudo datado do séc. XVII
apontava para a sua origem árabe. Contudo, tal abordagem encontra-se
completamente afastada pelos estudiosos actuais, por falta de fundamento. A
leitura mais completa e melhor alicerçada é da lavra de Amadeu Ferreira e
sustenta que a raiz do nome poderá assentar nos étimos “Muga” e “Gothorum”, que
significam “fronteira dos Godos”. O investigador baseia a sua tese num
elaborado trabalho que ainda se encontra inédito, que lhe confere
credibilidade.
2. Os “tenentes” de Mogadouro
Na história da vila cruzam-se a
linhagem dos Braganções, a Ordem do Templo, os monarcas portugueses, a Ordem de
Cristo e os Távoras. Localizado no Leste transmontano, em pleno planalto
mirandês, o concelho de Mogadouro inscreve-se num território que constituía,
desde meados do século XI, o centro tradicional do domínio da importante
linhagem dos Bragançãos.
Os mais antigos diplomas dizendo
directamente respeito a Mogadouro e ao seu castelo reportam-se já a uma fase
avançada das últimas décadas do século XII, num momento em que o castelo se
encontrava já sob a tutela da Ordem do Templo. Mogadouro foi doado à Ordem do
Templo por Fernão Mendes de Bragança quando este detinha, em nome do rei, a
tenência da terra. A primeira fase do domínio templário em Mogadouro
prolonga-se até 1197, altura em que Sancho I veio a recuperar das mãos daquela
milícia os castelos de Mogadouro e Penas Róias. Mogadouro haveria de regressar
à posse dos Templários ainda por D. Sancho I.
Ao aproximar-se o início do
último quartel do século XIII a acção de Afonso III, monarca que demonstra um
política activa de afirmação do poder régio em Trás-os-Montes através da
concessão de forais às comunidades daquela região e da reorganização
territorial dos espaços fronteiriços, irá desencadear um conflito directo com
os templários aos quais disputa a legitimidade da posse dos castelos de Mogadouro
e de Penas Róias.
Com a extinção da ordem do Templo
e sua substituição pela Ordem de Cristo, Mogadouro haveria de pertencer a esta.
3. Os forais
A 27 de Dezembro de 1272, Afonso
III atribui um primeiro foral a Mogadouro e Penas Róias, seguindo o modelo de
Zamora, recuperando assim estas fortalezas para a posse da Coroa. Afonso III
outorga novo foral a Mogadouro em 18 de Novembro de 1273.
Posteriormente, D. Dinis renovou-o
(em 1297) e D. Manuel I (em 1512) concedeu-lhe novo foral.
4. As feiras
Afonso III concede em 1272 aos
povoadores de Mogadouro carta para fazerem mercado semanal. Mais tarde, D.
Dinis irá instituir a feira mensal, em data incerta, mas anterior a 17 de
Setembro de 1295.
Historicamente, a Feira dos
Gorazes (feira anual, que se realiza a 15 e 16 de Outubro), afirmou-se como um
dos principais mercados da região, perdurando até aos dias de hoje nessa
condição.
5. A Crise de 1383/85
Na sequência da segunda invasão
castelhana de 1381, o castelo de Mogadouro foi tomado pelo invasor.
Em 1382, D. Fernando entrega esta
praça a Fernão Afonso de Zamora, fidalgo castelhano.
Durante a crise de 1383/85, a
praça de Mogadouro toma o partido de D. Beatriz, contrário a D. João I, o
Mestre de Avis, tendo-se com ele mantido mesmo após a batalha de Aljubarrota,
em 1386. Em 1397 e 1398 dão-se episódicas escaramuças fronteiriças que implicam
a passagem temporária de Mogadouro para mãos castelhanas.
6. Os Távoras
Por carta datada de 21 de Outubro
de 1401, D. João I faz a Pero Lourenço de Távora “doaçam em quãto sua mercee for de todos os direitos foros, rendas
tributos que o dito Senhor ha no Mogadouro”, reconhecendo os valiosos
serviços prestados de Pero Lourenço de Távora que acompanhou o Mestre de Avis
em Aljubarrota. Esta família deteve Mogadouro até à sua queda, ocorrida em
1759, às mãos do Marquês de Pombal, no conhecido processo que D. José I lhe
moveu. A família Távora transformou o medievo castelo roqueiro em residência,
dotando-o de conforto e estrutura que levarão os invasores espanhóis em 1762 a
designá-lo por “palácio a que chamam
castelo”.´
A esta família que dominou
Mogadouro durante três séculos, ficam a dever-se várias estruturas edificadas
que perduram na paisagem mogadourense, nomeadamente o Convento de S. Francisco,
a ponte de Remondes, sobre o rio Sabor (1678); a ponte de Meirinhos (1677); a
ligação de Mogadouro a Castelo Branco (Século XVII); o pontão de Zava (finais
do século XVII); a ponte de Vilarinho dos Galegos (século XVII) e a ponte
Gamona em S. Martinho do Peso (século XVII), bem como a casa das colunas, sita
no Largo do Conde Ferreira. Ressalta ainda à vista uma bela e imponente porta
de acesso à Quinta de Nogueira, tal como o belo e singular Monóptero de S.
Gonçalo (Quinta Nova). Outras edificações, como sejam o solar barroco de
Castelo Branco são-lhe igualmente atribuídas pela tradição popular, sem que, no
entanto, existam provas disso. Tal como o solar dos Pegados, junto ao castelo
que nunca lhes pertenceu, apesar de ser conhecido por “palácio dos Távoras”.
7. Património edificado do
concelho
Além das já mencionadas,
destacam-se ainda no património histórico edificado no concelho de Mogadouro,
as seguintes construções: o castelo de Mogadouro, castelo de Penas Róias, a muralha
medieval de Bemposta, a igreja medieval de Algosinho e a igreja medieval de
Azinhoso, a ponte medieval de Macedo do Peso e a ponte medieval de Penas Róias.
Além das ruínas de diversos
castros, quer na corda do rio Douro, quer na corda do rio Sabor (e outros junto
a pequenos cursos de água interiores – ribeiros). No panorama arqueológico,
merecem natural destaque as pinturas rupestres da chamada “Fraga da Letra”, em
Penas Róias e a estátua zoomorfa que representa um berrão e que se encontra
junto à igreja de Vila dos Sinos.
8. Divisão administrativa histórica
O actual concelho de Mogadouro
agrega o território de cinco antigos concelhos: Azinhoso, Bemposta, Castro Vicente,
Mogadouro e Penas Róias.
9. Património imaterial
Além da história e da
arqueologia, e nelas integrado, o concelho de Mogadouro é ainda rico em
tradições arcanas, nomeadamente no que a festas de solstício de Inverno diz
respeito. Apesar do desaparecimento de algumas, ainda se mantêm vivas as
seguintes festas solsticiais:
- Festa dos Velhos, em Bruçó (dia
25 de Dezembro);
- Festa do Chocalheiro, em vale
de Porco (dia 25 de Dezembro);
- Festa do Chocalheiro de
Bemposta (dia 26 de Dezembro e dia 1 de Janeiro);
- Festa do Farandulo, em Tó (dia
1 de Janeiro).
Todas estas manifestações se
enquadram nos rituais com máscaras do Inverno transmontano, sendo extremamente
ricas em simbolismo e beleza, atraindo anualmente estudiosos, curiosos e
naturais da terra que as revivem ciclicamente.
10. Judeus
Em Mogadouro existiu uma significativa
comunidade judaica, que foi alvo da impiedosa máquina inquisitorial. A especialista
Maria José Pimenta Ferro Tavares menciona nos seus estudos a existência de uma
importante comuna judaica já no século XIV (a par das comunas judaicas de
Bemposta e Azinhoso).
11. Figuras ilustres da terra
A figura maior do espectro
cultural local foi o escritor Trindade Coelho, autor de “Os Meus Amores”,
considerado por alguns como o verdadeiro “mestre do conto rústico”. Contista,
jurista, jornalista e educador do povo, deixou lastro cultural suficiente para
ser eternamente recordado pelos vindouros.
No plano histórico/político, destaca-se um grande vulto do séc. XVI, que foi D. Luís de Carvalhal (D. Luis de Carvajal Y de La Cueva), que foi governador do Novo Reino de Leão, no território do actual México (abrangendo partes dos EUA).
12. Festas
A vila tem como orago S. Mamede,
mas são as festividades em honra de N.ª Sra. do Caminho, realizadas
tradicionalmente no último domingo de Agosto que concitam maiores atenções e
reúnem maior fulgor, afirmando-se como o principal evento festivo do concelho e
um dos maiores das redondezas.
Além desta, é digna de menção a
festa de Santa Ana, organizada pelos jovens solteiros da vila, que assume
particular relevo no calendário litúrgico e festivo local.