Na volta, parámos na aldeia, onde o ex-alcaide Dulcíneo Rodrigues e ti Valdemar nos mostraram uma interessante inscrição de uma laje fúnebre do séc. XVII, localizada no interior do templo cristão. Não conseguimos decifrá-la na íntegra, mas percebemos que se trata da sepultura de um tal João Pereira, que terá sido, eventualmente, um figurão local.
No muro que cerca o recinto da igreja, encontra-se uma outra pedra escrita que, segundo informou ti Valdemar, serviu de suporte a um cruzeiro de madeira que assinalava a morte de alguém, ocorrida no séc. XIX.
Desta aldeia (da qual ainda descendo pela via materna), sabemos que em 1530 era povoada por 30 moradores (mais as esposas e crianças, em número indeterminado); em 1758 tinha 140 almas (50 vezinhos); em 1775, habitavam-na 46 moradores (mais os outros), e em 1796 paravam por lá 117 habitantes.
Quanto ao exótico topónimo, reza a lenda que os habitantes da primitiva povoação, vejam bem a novidade, terão sido assolados por uma praga e obrigados a mudar de sítio (onde é que eu já ouvi isto...). E para escolher o local da futura aldeia, tiveram a peregrina ideia de soltar uma vara. Seguiram os porcos até ao local onde aqueles pararam. Como ficaram por ali, o povo também armou lá a tenda e assim passou o aglomerado populacional a ser conhecido por Vale de Porco (é mais ou menos isto). Como de lendas não se alimenta a toponímia, quer-me parecer que a origem é bem mais interessante e não tem nada a ver com o saboroso animal que abastece os fumeiros locais. Para já, ainda ando a explorar hipóteses, mas a leitura das respostas do padre João Fernandes ao inquérito de 1758 vem corroborar uma das pistas por mim seguidas. A ver vamos...
Fotos: Antero Neto
E quanto a figuras importantes, devo aqui uma desculpa ao Dulcíneo, pois, ao contrário da informação que lhe dei, o cura do séc. XVIII refere um tal Gregoro (sic) Fernandes, que terá sido um grande filósofo, teólogo, matemático e canonista. Já busquei mais informações sobre ele, mas ainda não consegui nada.Uma última nota para a referência à antiquíssima existência de minas de prata, num local a que chamam "Prado de Rei", e que fica subjacente à fraga de Pena Curva.