sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Pérolas soltas de "O Senhor Sete"

Apeteceu-me revisitar Trindade Coelho através da sua faceta de etnógrafo. A leitura de "O Senhor Sete" oferece-nos alguns momentos maravilhosos, impregnados pelo fino sentido de humor do notável homem de letras mogadourense. Aqui vão alguns apontamentos:

PADRES
"Lembra-me agora a conta do outro, que em vez de uma criada de cinquenta anos, como o bispo lhe prescrevera, arranjou duas de vinte e cinco"

JUDEUS
"E nunca me há-de esquecer que num romance russo que eu li, Tarass Bulba, se me não engano, dum escritor chamado Nicolau Gogol, há um judeu que é feito prisioneiro de guerra e amarrado a ferros debaixo dum carro de campanha, para morrer no dia seguinte. Pois não obstante isso, passada meia hora já tinha a sua tendinha debaixo do carro, e vendia aos soldados aguardente"

ATEUS
"Sobre isso de ateus, disse-me também o Sr. Ramalho Ortigão que Eça de Queirós tencionava pôr na boca de um, acho que na Relíquia, esta frase:
- Eu, graças infinitas sejam dadas à Misericórdia Divina, sou ateu!"

CHICHOS
"o meu querido e sempre lembrado chicho da minha alma, que vem a ser um bocadinho de carne que em vez de ir para o funil, e do funil para dentro da tripa, quando as mulheres estão a fazer os chouriços, vai mas é prà mão do rapaz - "Toma, guloso!" - da mão do rapaz pra cima da brasa, e da brasa, não tarda nada, para a barriga, com o gato ao pé a lamber os beiços, e com dois olhos que são duas brasas... Até mia!"