Há muito que andava para ir até ao "Forno dos Mouros",
em Brunhoso. O meu antigo aluno, Luís Cordeiro, já me tinha lançado o desafio
há cerca de dois meses atrás. Ontem tomámos a decisão de meter pés ao caminho.
Debaixo de um vento do género "barbeiro" (como dizia o antigo lateral
direito do FC Porto, João Pinto, "não estava frio, nem estava calor.
Estavam zero graus"), mas com o sol a agraciar-nos timidamente com a sua
presença, encetámos caminhada de uma hora e vinte para cada lado (o local é acessível
por viatura TT, mas preferimos ir a pé). A liderar a comitiva ia o experiente
Fernando Cordeiro, acompanhado pelos filhos António e Luís.
À medida que Brunhoso desaparecia do horizonte, iam surgindo
espessas manchas de sobro e fartos olivais, que fazem jus à riqueza desta
terra. Lá ao fundo, assomava o ora pujante rio Sabor.
Foto: Luís Cordeiro
Foto: Luís Cordeiro
Uma vez chegados ao local, confesso que me assustei com as
condições de acesso. A flexibilidade já não é a de outrora e as fragas metem
respeitinho. Mas, devidamente orientado pelos nossos guias, lá consegui trepar
até ao interior do buraco.
Como se pode observar pelas fotos, o interior é bastante amplo.
E da sua boca observa-se paisagem de
cortar a respiração!
Aspecto da entrada.
Refira-se que no sopé desta elevação,
junto à margem do rio, foram descobertas estruturas habitacionais que
indiciaram a ocupação humana do local, possivelmente (digo
"possivelmente" porque não as cheguei a ver e não tive acesso aos
respectivos estudos) da época romana. Quando questionei o Luís e o pai acerca
da explicação popular para esta estrutura, disseram-me que apenas se constava
que ali tinha habitado gente. Ora, da análise sumária do local, bem como da
ponderação dos outros factores, tudo me leva a crer que estamos na presença de
mais uma exploração mineira romana. Como é sabido (já o Abade de Baçal alertava
nesse sentido), sempre que a toponímia nos remeter para os "mouros"
estamos em presença de locais de interesse arqueológico (e, repito, nada de
confusões entre estes "mouros" e os árabes, como às vezes ainda se vê
nalgumas obras. Ainda recentemente deixei de comprar um livro - "Portugal
- O sabor da Terra" - porque, entre outras calinadas respeitantes ao
concelho de Mogadouro, ali se afirma que uma das provas da presença árabe no
nosso concelho está no designado "castelo dos mouros" de Algosinho...
Irra!). Carecendo embora de ser caucionada por especialistas, a minha opinião,
alicerçada na experiência que obtive quando acompanhei a equipa de arqueólogos
espanhóis que estiveram em Mogadouro no ano passado, é a de que se trata de uma
mina abandonada. Segundo me referiu Fernando Cordeiro, haveria outras minas nas
proximidades. Só que já estão destruídas e o acesso é muito complicado. Por
isso, não fomos lá.
Isto foi de manhã. À tarde, toca a rumar
até Torre de Moncorvo, onde se inaugurava uma exposição dedicada à máscara no
Museu do Ferro, com a presença do Dr. António Pinelo Tiza a proferir palestra
sobre a temática. A experiência foi, como não podia deixar de ser,
enriquecedora e permitiu-me conhecer curiosa costumeira carnavalesca do Felgar.
Tempo igualmente para me deliciar com as animadas palestras do Dr.
Nelson Campos e, no final, para acompanhar o prof. Arnaldo Silva a uma visita
guiada ao Núcleo Museológico da Fotografia do Douro Superior. Estrutura
magnífica que nasceu da paixão deste homem pela fotografia e que o levou a
cometer a loucura de se endividar financeiramente para cumprir o seu sonho. Se
o leitor calhar de passar por estas latitudes não deixe de lhe fazer uma
visita, pois vale bem a pena.
E depois de um domingo destes, lembro-me
do tempo em que tomei a decisão de regressar ao interior e dos meus amigos me
dizerem que ia morrer aqui de tédio, e que não havia nada para fazer nos tempos
livres, e que etc. e tal...