O insigne estudioso e grande vulto da cultura nacional, Joaquim Rodrigues dos Santos Júnior, levou a cabo durante as férias da Páscoa de 1921, um interessantíssimo estudo acerca da população e dos usos e tradições desta localidade, que deu à estampa em 1924. Só por este trabalho (não obstante os muitos em que se debruçou sobre o concelho de Mogadouro), este homem merecia uma singela placa na toponímia local (mas, de toponímia e comissões da dita cuja estamos conversados. Quando se assiste a nomeações como a que foi feita pela Assembleia Municipal de Mogadouro - com o meu e mais três votos contra - não vale a pena gastar mais latim. Cada um tem o que merece...).
Capa do livro.
Estampa que integra o livro, com imagem do casario da época.
Entre os muitos e variados temas que aborda, achei particularmente piada à questão dos usos aquando do nascimento das crianças:
"Não há parteira de profissão. Qualquer mulher desempenha essas funções.
(...) - Não, meu senhor, a primeira vizinha que aparece é que talha a vide e depois amarram-na com um fio qualquera, quási sempre linha caseira, e a ponta desse fio ata-se a um pé da mãe.
Daí a bocado saem as lívias; se demora tempo a aliviar-se, o homem agarra-a pelas costas, por debaixo dos braços, e dá-lhe duas sacudidelas pequenas, para as lívias saírem.
(...) - E depois de nascer o que fazem?
- Ós rapazes, puxa-se-lhes o nariz para que não fique batato, e às raparigas aperta-se-lhes os biquinhos dos peitos para sair a peçonha que traz lá metida, senão criam-lhe os peitos.
- E em seguida lavam-nas, não é verdade?
- Sim, meu senhor, dá-se-lhes um banho em água quebrada da friura, mas há quem os espete logo numa bacia de água fria."
O relato continua com a descrição dos passos seguintes. Verdadeiramente precioso!