Brasão da família Távora existente no concelho de Mogadouro.
Cópia da uma carta
que o Secretário de Estado Diogo de Mendonça Corte Real escreveu ao marquês de
Távora, António Luís de Távora, por haver fugido da sua vila de Mogadouro
quando os espanhóis surpreenderam a cidade de Miranda em 1710.
«Sua Magestade que Deus guarde hé servido mandar dizer a V.
Ex.ª que foi muito do seu real agrado que á primeira surpreza de Miranda se
retirasse V. Ex.ª do Mogadouro tão cuidadosa e aceleradamente que não tivesse o
mais leve perigo sua pessoa; porque ainda que com aquelle successo e fugida de
V. Ex.ª hé certo que se consternarão os Povos e ao seu exemplo desertavão os
lugares temendo a furia do inimigo que facilmente poderião rebater; todavia Sua
Magestade preza mais a segurança da pessoa de V. Ex.ª e a certeza de que se
tirou sem mais lezão que a sua antiga manqueira do que sente toda a ruina que
nessa provincia pela invazão dos castelhanos experimentarão seus vassallos com
injuria da sua Coroa. E portanto lembra a V. Ex.ª que sempre que houver
semelhantes occazioens se ponha em cobro sem risco seu porque hé muito
necessaria a sua pessoa para authoridade da nobreza, para credito da Nação e
para ornamento da sua real capella de que tem feito a V. Ex.ª superintendente
com exercicio de prioste. Cá se dice que achando-se V. Ex.ª nessa provincia em
que hé tão grande senhor que com poder despotico e absoluto uza do seu e do
alheio devia deixar-se inflamar de algum eroico espirito que como filho de seu
pay conservase para acudir pela reputação portugueza; e que pondo-se a cavallo
podéra convocar os seus vassallos e os mais povos que a seu exemplo correrião
voando e em caminhos tão apertados com facilidade poderião disputar o passo ao
inimigo e impedir-lhe os progressos, hostelidades, estragos, violencia e
confusão que padecerão as terras que elle talou [e] destruhio: e hé certo que
intentando V. Ex.ª huma façanha tão gloriosa poderia sem dificuldade grande
consegui-la; mas porque poderia tão bem haver algum perigo em tal empreza foi
mais seguro o arbitrio de fugir. E visto que V. Ex.ª preza tanto a vida que a
antepoem ao credito e á honra Sua Magestade lhe faz merce de mais duas vidas nas
terras da Coroa e ordens. Huma só couza manda estranhar e hé que estando ha
tantos annos na provincia ainda achassem nella que levar os inimigos quando se
entendia que a madura ambição de V. Ex.ª e as ligeiras rapazias do senhor conde
de S. João seu filho terião em melhor arrecadação os erarios particulares como
descendentes daquelle antigo leão do qual posto que lhe deixou a coroa sempre
conservão as garras. Deus Guarde a V. Ex.ª muitos annos.
Paço 20 de Julho de 1710.
Diogo de Mendonça Corte Real».