terça-feira, 25 de julho de 2017

Recordação de uma segada tradicional (2008)

Decorreu no pretérito dia 26 de Julho, na aldeia de Bruçó, concelho de Mogadouro, a segunda edição da Segada tradicional. Tal como a primeira, a organização conjunta desta iniciativa esteve a cargo da Junta de Freguesia e do Centro Cultural e Recreativo de Bruçó.
O evento constituiu um autêntico passeio pela História, com a cuidadosa e criteriosa recriação dos usos e costumes da época. Desde as vestimentas dos participantes até aos rituais e ferramentas utilizadas, tudo decorreu como se nos encontrássemos em plena década de cinquenta do século passado.
A concentração teve início no Largo da Calçada, no centro da aldeia, onde foi posta uma mesa com o “mata bicho”, ou “desinjum”, composto por pão, queijo, presunto e salpicão, regados com água ou vinho, servidos nas tradicionais cabaças.


Depois de devidamente afiadas as “seitouras” ou “foices” e verificadas as dedaleiras, a comitiva arrancou em direcção ao campo, onde uma farta seara de centeio os aguardava. Ali chegados, postou-se o “menageiro”, que é quem conduz e impõe o ritmo, e os restantes segadores, que ao som de alguns cânticos da componente feminina foram ceifando, respeitando sempre os procedimentos de antanho.



Após a ceifa concluída, cerca das 09.30 h, as mulheres serviram o almoço, que foi degustado em cima de toalhas estendidas em pleno restolho. Nesta refeição foram servidas as tradicionais “sopas da segada”, rijadas em azeite, como mandam os preceitos, e ainda batatas guisadas com bacalhau. Com vinho e água sempre a acompanhar. Enquanto decorria a pausa para o almoço, as mulheres continuaram a animar a jornada com cantares tradicionais e danças ao desafio.






Terminado o repasto, foi tempo de carregar os "molhos", feitos com as “gabelas” do cereal para o típico carro-de-bois, dando início à “carreja”. O carro de madeira, puxado por duas possantes vacas, transportou a carga para as Eiras do Castanho, onde foram feitas medas (ou “murnais”), que haveriam de ser malhadas e trilhadas. Após estas operações, o grão foi limpo e ensacado, ficando pronto a seguir para as “tulhas”.
No final, por volta das 13.30 h, foi servido o jantar, à sombra de um pequeno bosque de carvalhos, onde esteve cerca de meia centena de pessoas. A rematar houve cantoria ao desafio, acompanhada por música de cavaquinho e ainda o inevitável bailarico.














A iniciativa teve inteiro sucesso e grande adesão por parte dos mais novos, para quem tudo aquilo foi novidade. A organização promete repetir o evento no futuro e torná-lo um hábito na freguesia.                                                                                  
Antero Neto (texto publicado no jornal "Voz do Nordeste").