Quem deixa Portugal pela barragem de Bemposta, depara-se com esta singular povoação espanhola que parece talhada, toda ela, no monte roqueiro que rasga o horizonte.
Tradição e história ensinam-nos que a existência de Fermoselle está prenha de episódios de intercâmbios de toda a espécie com os vizinhos do lado de cá do rio Douro. Verdadeiramente, a fronteira nunca passou de um traço num papel a que se convencionou chamar "mapa". As barreiras administrativas sucumbiram sempre à vontade dos homens.
E como se diz na nota introdutória, Fermoselle merece uma visita demorada às suas entranhas. Sim, porque é no seu âmago que esta vetusta povoação se espraia em verdadeiro deslumbre. Já tinha visitado a "bodega" do amigo Aníbal. Na ocasião, por infortúnio, não levei a máquina. Calhou hoje que a solícita, simpática e muito culta Júlia Sendim, funcionária da "Casa del Parque", nos guiasse a conhecer uma peculiar bodega, pertencente à "peña fermosellana El Pulijón".
Recuperada há cerca de 40 anos, a imponente adega encontra-se debaixo da sede desta peña fermosellana. O local é reservado aos sócios. Já foi oficialmente visitada pelo então presidente da câmara municipal de Mogadouro, Dr. Francisco Pires, conforme fizeram questão de nos mostrar com orgulho, os sócios que nos receberam (a sua assinatura e dedicatória constam do livro de honra da instituição).
Conforme nos explicaram, o "pulijón" (que aparece retratado nesta imagem, na mão do nosso anfitrião) foi um antepassado dos actuais candeeiros de iluminação pública. O recipiente era cheio com pez que, depois era aceso, e assim permitia iluminar as ruas esconsas e íngremes de Fermoselle.
Entrada de uma das muitas bodegas que se podem encontrar ao longo das ruas da localidade. Segundo nos relataram os nossos anfitriões, a aldeia encontra-se praticamente toda assente em bodegas.
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Meros armazéns de vinho? Esconderijos? A sua origem perde-se na bruma do tempo...
Fotos: Antero Neto.