Aspecto do concerto do dia 24.
Paços do concelho, com revista à guarda de honra do corpo activo dos bombeiros voluntários.
Mesa solene (Teresa Cordeiro, Francisco Guimarães, Ilídio Vaz e Antero Neto) e actores da ACEITTA.
Fotografias da autoria de Francisco Pinto.
"Ex.mo Senhor... (seguem-se os cumprimentos protocolares).
É com grande honra que hoje me dirijo a esta plateia, a convite do senhor Presidente da Mesa da Assembleia Municipal de Mogadouro, a quem desde já, agradeço a oportunidade.
Quando fui convidado, preocupei-me em rever os discursos que em anos anteriores tinha proferido neste palanque. E quando os li, verifiquei que se mantinham perfeitamente actuais. Nada mudou de então para cá. Infelizmente. Mas, depois reflecti no que ali tinha escrito, nomeadamente na descrição do estado horrífico a que chegou a nação e pensei: mas, se eu fui militante do Partido Socialista durante vinte anos e agora estou aqui em representação do Partido Social Democrata e foram precisamente estes dois partidos políticos os principais responsáveis pelo estado actual da situação do nosso país, que sentido faria estar aqui a descrevê-lo? Por isso, não será esse o rumo da minha intervenção.
Aproveito ainda esta oportunidade, e depois de ter escutado os belos textos aqui lidos pelos actores da ACEITTA, para deixar uma sugestão aos responsáveis máximos da Câmara Municipal e da Assembleia Municipal: que promovam um trabalho de recolha de depoimentos de quem vivenciou o 25 de Abril no concelho de Mogadouro e reúnam esses testemunhos em livro. Seria um documento de trabalho riquíssimo para utilizar em futuras edições comemorativas desta efeméride.
Feito este pequeno intróito, passo a ler-vos as breves palavras que escrevi para esta ocasião:
25 de Abril - A IMPORTÂNCIA DA MEMÓRIA
Não! Esta comemoração é importante! E assume tanto mais relevo, porquanto atravessamos uma conjuntura de grave crise! E são precisamente as condições a que nos conduziu essa crise que nos impõem uma séria e aturada reflexão acerca da real importância e acutilância do verdadeiro significado de "Abril".
Daí, o título a que subordinei esta minha curta intervenção: a importância da memória! Não é segredo para ninguém que a crise não é exclusivamente do foro económico. É igualmente, e sobretudo, de valores! E o Povo não é surdo nem cego. Começa a agitar-se no seu âmago! Começa a questionar-se se terá valido a pena esta revolução de Abril! Aqui e ali, começamos a ouvir entoar sérias loas ao regime que Abril depôs!
Por essa razão, torna-se imperativo dar ouvidos ao Povo! Tomar-lhe o pulso! Porque , ao contrário do que sempre nos quiseram fazer crer, Portugal não é um país de brandos costumes! E se a memória de alguns é curta, permitam-me então que faça aqui uma incursão telegráfica, mas necessária, pelos fólios da História do séc. XX português. Podeis pensar que vou invocar eras longínquas. Desenganai-vos. Vou-vos falar de factos que este suposto país de brandos costumes viveu há menos de 100 anos! Permiti-me que vos recorde que durante a chamada Primeira República, que vigorou entre 1910 - data da implantação do regime republicano - e 1926 - data da implantação da ditadura, estima-se que morreram milhares de portugueses em consequência dos conflitos civis! E houve governantes que foram chacinados no meio de purgas políticas sanguinárias, como aquela que ocorreu em 19 de Outubro de 1921 e que ficou conhecida para a posteridade como a "noite sangrenta", em que foram barbaramente assassinados António Granjo - transmontano e ex-chefe de governo - conjuntamente com Carlos da Maia, Freitas da Silva e Machado Santos, herói da revolução de 1910! E antes disso, em 1918, foi igualmente assassinado Sidónio Pais, que era então o Presidente da República. E, repito, isso não foi assim há tanto tempo (há gente viva que nasceu antes dessas datas)!
Desenganem-se, pois, aqueles que julgam que o povo é e será eternamente sereno e ordeiro. As aparências iludem! A paz podre que vigora artificialmente, alimentada pela corrupção que grassa no seio da classe dirigente e que nos dias que correm se materializa, por exemplo, na prisão preventiva de um ex-primeiro-ministro, na prisão preventiva de diversos altos quadros da função pública, bem como na suspeição que é permanentemente lançada sobre a conduta ética e cívica de quem nos governa, pode conduzir a resultados extremamente perniciosos e incontroláveis para o nosso sistema democrático!
Daí a importância desta comemoração. Do reavivar do sofrimento colectivo que representou a ditadura! Que Abril nunca morra nos nossos corações, e que mantenhamos os sentidos alerta para o perigo que, qual espada de Dâmocles, permanece em suspenso sobre o frágil pescoço do sistema democrático português! Hoje, mais do que nunca, urge rememorar e comemorar "Abril"!
Viva Portugal!
Viva Mogadouro!
Viva o 25 de Abril!"