mogadouro (ho mogadoyro)
figuras, património, lugares e histórias que fazem (e fizeram) o quotidiano mogadourense
terça-feira, 18 de setembro de 2018
FC Mogadourense empatou em Monção (1979)
Foto surripiada da página de Facebook do Aníbal Palhau, fornecida a este último pelo guarda-redes do FCM de então, Mário Rui (clicar na imagem para ampliar).
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
A gaita de foles de Manuel São Pedro
"Gaita-de-foles do tipo "grileira" galega, composta por um tubo insuflador de ar - o "assoprete" -, dois tubos melódicos - a "punteira" e o "bordão" - todos feitos em madeira de freixo torneada, aproveitada propositadamente do centro de um eixo de carro de bois, e um fole em pele de cabrito, voltada do avesso, atada nas pontas com o pelo visível nessas partes, apresentando o bocal do pescoço para a"punteira" e as patas dianteiras para o "assoprete" e o "bordão". Tubo insuflador de válvula simples. "Punteira" de palheta dupla de cana, de secção cónica rematando em campânula, com oito orifícios melódicos e mais dois de aferição, decorado com anilhas de chifre e por frisos circulares incisos. Esta apresenta ainda a inscrição das iniciais "M.J.S.P.", ou seja, as de seu anterior proprietário, Manuel José San Pedro; e a data "1960". "Bordão" de palheta singela de cana, de secção cilindrica, composto por três elementos - "ombreira"; "intermeia" e "bordão" - que se encaixam uns nos outros por esta ordem, encontrando-se decorado por anilhas de chifre nas zonas de junção de seus elementos constituintes e com frisos circulares incisos. Este apresenta ainda a ele pendente uma franja de cor azul e castanha e duas borlas de fios de cor azul fixas a aplique de madeira. Medidas (cm): fole: alt. 58 larg. 20 "assoprete": comp. 19 "punteira": comp. 41,5 "bordão": comp. 89.
Pertencia a Manuel José San Pedro, de Travanca, Mogadouro pelo valor de 200$00."
Imagem e texto: http://www.matriznet.dgpc.pt.
Nota: a descrição apresentada na referida página da DGPC está manifestamente inquinada de erro. A referida gaita-de-foles não se enquadra no tipo "galego", mas outrossim no tipo designado (quanto a mim, abusivamente) por "mirandês", próximo da "sanabresa".
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Dez anos e 1400 posts: fim de linha.
Foi há exactamente dez anos atrás. Parece que foi ontem. Foi uma aventura fantástica que me deu muito prazer. Entendo que é chegado o tempo de colocar fim a este ciclo. Isto não significa que vá deixar de andar por aí, a pesquisar e a compilar informação e saberes acerca da minha terra. Significa apenas e só o fim deste formato. A todos os que me leram e seguiram, deixo aqui o meu sentido agradecimento. Bem hajam.
sábado, 16 de setembro de 2017
Tempo de vindima: os vinhos de Bemposta no séc. XIX
Foto: Antero Neto.
(...) "O frete de uma pipa de vinho ou aguardente da Bemposta, até á Foz do Sabor, na distancia de pouco mais de 38 kilometros, é de 8$000 a 10$000 réis;"
Foto: Santa Casa da Misericórdia de Mogadouro.
Só uma pequena nota: 38 kms entre Bemposta e a foz do Sabor? O homem tinha os instrumentos de medição claramente avariados...
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
Convulsões eleitorais em Mogadouro
Pedindo desde já desculpa aos leitores pela colocação cronológica errada do último post no período pós republicano, deixo aqui mais um excerto do relato de Hintze Ribeiro a propósito das convulsões eleitorais do início do séc. XX, que opunham as duas grandes forças políticas da altura: progressistas e regeneradores.
"Em Mogadouro também houve tumultos, assuadas, violências e ferimentos nos dias 18, 19, 20 e 21 de Outubro."
(...) "Tenho obrigação de mostrar que na eleição do Círculo de Mogadouro se praticaram mais do que ilegalidades, crimes; tenho necessidade de dizer que alguns factos que ali se praticaram influíram, no meu parecer, no resultado da eleição."
"Em Mogadouro também houve tumultos, assuadas, violências e ferimentos nos dias 18, 19, 20 e 21 de Outubro."
(...) "Tenho obrigação de mostrar que na eleição do Círculo de Mogadouro se praticaram mais do que ilegalidades, crimes; tenho necessidade de dizer que alguns factos que ali se praticaram influíram, no meu parecer, no resultado da eleição."
sexta-feira, 8 de setembro de 2017
Chuva de pedras, tiros e cacetadas na feira do Azinhoso, com gente de Penas Roias à mistura
Pelourinho e aspecto do centro urbano do Azinhoso.
Castelo de Penas Roias.
O período eleitoral do final do séc. XIX e início do séc. XX, cujo panorama era dominado pelos caciques dos partidos Regenerador e Progressista, conduziu algumas vezes a fortes convulsões sociais e inerentes desacatos com consequências graves. Eis o relato de um episódio que se passou na feira do Azinhoso:
"Também não contarei a V. Exa o que aconteceu na feira do Azinhoso, onde houve uma verdadeira chuva de pedradas e tiros de revólver, aparecendo aqueles cacetes do Norte nas mãos dos de Penas Roias."
quarta-feira, 6 de setembro de 2017
Feira do Azinhoso: cartaz de 2017 e nota histórica
Clicar na imagem para ampliar.
Mais um ano, mais uma edição da famigerada Feira do Azinhoso, onde o tema principal são os burros, simpática e útil alimária que muito contribuiu para a economia local ao longo de séculos. O certame costuma contar com burros do Azinhoso e burros vindos de outras localidades. São todos muito bem vindos...
Aproveito para deixar aqui uma pequena nota histórica que realça bem a importância regional da Feira do Azinhoso noutros tempos:
"Aos 27 dias do mes de septembro de 1597 annos, estando todos os senhores capitulares iuntos em Cabido... por elles foi assentado e acordado, que porquanto os freguezes e moradores dos lugares de Carção, e algusello, estauão pobres e faltos de pão, elles senhores do cabido por lhes fazer boa obra, consentião, e erão contentes que os recebedores Cristouão dalmança, chantre, e o licenceado Antonio da costa... podessem dar, e dessem emprestado o pão das prebendas que lhe arrendarão, aos freguezes dos ditos lugares pera semearem. E pera comerem, attento ao anno estar muito esteril e falto de pão. E comprindo elles com esta obra, disserão que erão contentes, e lhes aprazia de lhe alargarem a paga das ditas prebendas pera o anno que uem, até a feira do azinhoso do dito anno de nouenta e oito, e que pagassem tudo na dita feira do azinhoso."
terça-feira, 5 de setembro de 2017
Pandeiros e Sécias de Fornos
À boleia do amigo Mário Correia, desloquei-me no pretérito dia 31 de Agosto à localidade de Fornos, concelho de Freixo de Espada à Cinta, onde decorriam as festividades anuais, em honra do Senhor da Rua Nova. O motivo especial da visita prendia-se com a vontade de ver actuar as tocadoras de pandeiro (uma espécie de adufe). Porém, esta visita haveria de motivar nova incursão à bonita aldeia, na demanda do estranho ritual das "Sécias". Quando me falaram desta tradição, acenderam-se logo as luzes da curiosidade, pois assemelha-se em tudo à festa de S. Membrum, que decorria em Vilarinho dos Galegos e de que falei no livro que escrevi sobre esta aldeia. Posto isto, voltámos ao local no dia de ontem, à tarde, para tirar apontamentos e algumas fotos.
O investigador local, Amadeu Ferreira (não confundir com Amadeu, de Sendim), menciona esta festividade no livro "Quem Vê o Seu Povo". Curiosamente, começa por afirmar que este ritual não tem nada de "mariquice" (fiquei mais descansado...) e associa-o ao facto de as mães não deixarem as filhas dançarem com os rapazes. E então, estes para se vingarem daquelas, vestiam-se como mulheres e organizavam danças com outros rapazes, parando à porta das raparigas casadoiras. A homenageada saía de casa com figos secos, amêndoas e uma garrafa de vinho. Também trazia uma galha de manjerico que ciosamente regava durante o ano (curiosamente, ontem disseram-nos que o manjerico servia de perfume, para disfarçar o mau cheiro) que entregavam aos rapazes e "raparigas". Nos dias que correm, a dança ocorre exclusivamente no terreiro frontal à capela do Divino Senhor da Rua Nova (cuja construção data do séc. XVIII).
A propósito desta curiosa denominação do santo, comentei com as senhoras que o topónimo "Rua Nova" é normalmente associado a locais de habitação de judeus. E a resposta veio pronta: "nós aqui somos judeus!" E, de facto, uma pequena viagem pelas ruas da aldeia permite observar várias marcas arquitectónicas normalmente associadas à herança judaica (por mais que o ilustre Professor Adriano Vasco Rodrigues defenda que tal coisa não existe, a tradição oral persiste em contradizê-lo. E como em matéria de investigação histórica não existem "vacas sagradas", mantenho na íntegra o que tenho dito e escrito acerca deste tema).
Mas, voltando à festa das "Sécias", atentem no que se passava em Vilarinho dos Galegos, no mês de Setembro: "Durante esta festa de carácter brejeiro e profano, o povo bailava e bebia abundantemente. As danças eram executadas à volta da igreja e pelas ruas da povoação, ao som de pandeiros, em “ensurdecedora algazarra”. Operava-se a inversão dos valores tradicionais e as mulheres cavalgavam os homens." (Antero Neto, in "Vilarinho dos Galegos e os seus mascarados"). Note-se a presença dos pandeiros. E a inversão de valores sociais. Não é possível ser uma mera coincidência. Perante isto, fico convencido que a dança das Sécias não é nada mais, nada menos, que uma tradição de raiz pagã, com origem nas "pandorcadas", celebradas em honra dos deuses Dioniso e Baco, que a Igreja Católica na impossibilidade de combater, assimilou de forma inteligente ao seu calendário litúrgico.
Para finalizar, deixo aqui um abraço ao meu amigo Amílcar Jorge e às senhoras (tocadoras de pandeiro e cantadeiras) que tão simpaticamente nos receberam e explicaram a dinâmica da festa.
O investigador local, Amadeu Ferreira (não confundir com Amadeu, de Sendim), menciona esta festividade no livro "Quem Vê o Seu Povo". Curiosamente, começa por afirmar que este ritual não tem nada de "mariquice" (fiquei mais descansado...) e associa-o ao facto de as mães não deixarem as filhas dançarem com os rapazes. E então, estes para se vingarem daquelas, vestiam-se como mulheres e organizavam danças com outros rapazes, parando à porta das raparigas casadoiras. A homenageada saía de casa com figos secos, amêndoas e uma garrafa de vinho. Também trazia uma galha de manjerico que ciosamente regava durante o ano (curiosamente, ontem disseram-nos que o manjerico servia de perfume, para disfarçar o mau cheiro) que entregavam aos rapazes e "raparigas". Nos dias que correm, a dança ocorre exclusivamente no terreiro frontal à capela do Divino Senhor da Rua Nova (cuja construção data do séc. XVIII).
A propósito desta curiosa denominação do santo, comentei com as senhoras que o topónimo "Rua Nova" é normalmente associado a locais de habitação de judeus. E a resposta veio pronta: "nós aqui somos judeus!" E, de facto, uma pequena viagem pelas ruas da aldeia permite observar várias marcas arquitectónicas normalmente associadas à herança judaica (por mais que o ilustre Professor Adriano Vasco Rodrigues defenda que tal coisa não existe, a tradição oral persiste em contradizê-lo. E como em matéria de investigação histórica não existem "vacas sagradas", mantenho na íntegra o que tenho dito e escrito acerca deste tema).
Mas, voltando à festa das "Sécias", atentem no que se passava em Vilarinho dos Galegos, no mês de Setembro: "Durante esta festa de carácter brejeiro e profano, o povo bailava e bebia abundantemente. As danças eram executadas à volta da igreja e pelas ruas da povoação, ao som de pandeiros, em “ensurdecedora algazarra”. Operava-se a inversão dos valores tradicionais e as mulheres cavalgavam os homens." (Antero Neto, in "Vilarinho dos Galegos e os seus mascarados"). Note-se a presença dos pandeiros. E a inversão de valores sociais. Não é possível ser uma mera coincidência. Perante isto, fico convencido que a dança das Sécias não é nada mais, nada menos, que uma tradição de raiz pagã, com origem nas "pandorcadas", celebradas em honra dos deuses Dioniso e Baco, que a Igreja Católica na impossibilidade de combater, assimilou de forma inteligente ao seu calendário litúrgico.
Para finalizar, deixo aqui um abraço ao meu amigo Amílcar Jorge e às senhoras (tocadoras de pandeiro e cantadeiras) que tão simpaticamente nos receberam e explicaram a dinâmica da festa.
sexta-feira, 1 de setembro de 2017
Arrematação das portagens de Mogadouro, Azinhoso e Penas Roias - 1759
Ainda na sequência do Sequestro dos bens dos Távoras operado em 1759, ficamos a saber que o direito a cobrar portagem nos concelhos de Mogadouro, Azinhoso e Penas Roias foi arrematado por um particular.
A arrematação foi feita pelo alfaiate Francisco Rodrigues, pelo preço anual de 15$000. O leiloeiro parece não ter gostado do negócio, pois segundo o escrivão do acto terá proferido as seguintes palavras: "mais não acho e se mais achasse mais tomara". E para finalizar, munido de um ramo na mão gritou: "dou-lhe uma, dou-lhe duas e dou-lhe outra mais pequenina". E metendo o ramo na mão ao arrematante, disse-lhe: "que lhe faça muito bom proveito."
Terá feito, certamente...
A arrematação foi feita pelo alfaiate Francisco Rodrigues, pelo preço anual de 15$000. O leiloeiro parece não ter gostado do negócio, pois segundo o escrivão do acto terá proferido as seguintes palavras: "mais não acho e se mais achasse mais tomara". E para finalizar, munido de um ramo na mão gritou: "dou-lhe uma, dou-lhe duas e dou-lhe outra mais pequenina". E metendo o ramo na mão ao arrematante, disse-lhe: "que lhe faça muito bom proveito."
Terá feito, certamente...
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quinta-feira, 31 de agosto de 2017
A Quinta de Nogueira no inventário de 1759
No já mencionado inventário e sequestro dos bens da família Távora, ocorrido em 1759, consta a seguinte descrição da Quinta de Nogueira:
"A Quinta de Nogueira que tem de circuito em roda duas léguas grandes e consta de:
Árvores agrestes, carvalhos, azinheiros, freixos e mato baixo, em que estão vedados muitos veados e gamos, cercada toda a quinta, em redor, de valado alto com mato por cima com suas casas no meio que se compõem de sete casas altas, um corredor, duas casas baixas, uma cavalariça em quadra grande com um palheiro no meio, uma cozinha e uma casa de forno separada e nas casas os seguintes trastes: 5 bancas e seus bancos de espaldar, tudo de pau de castanho; 12 colmeias e 1 maceira, tudo na casa do forno. Tudo ficou confiado à guarda e administração de Marcos Gonçalves, lavrador, com a incumbência de defender a caça da coutada contra caçadores e lobos."
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
Nossa Senhora do Caminho - a data da festa
Mapa da vila de Mogadouro traçado pelos invasores espanhóis em 1762. A capela de Nossa Senhora do Caminho vem desenhada e assinalada (dentro do círculo a vermelho), tal como os álamos negros que ladeavam a alameda.
Cartaz das festas com a representação gráfica do andor velho, em forma de lira, que foi substituído no séc. XX pelo actual.
Terá fundamento histórico essa dita "tradição"? Não. Não obstante a maior parte dos cartazes conhecidos do séc. XX apontar sempre para essa ocasião, o que é facto é que o documento escrito mais antigo até agora conhecido menciona o dia... 15 de Agosto!
Vejamos o que escreveu o padre Luís Rodrigues de Carvalho, pároco de Mogadouro, em 8 de Abril de 1758:
"Tem a dita villa suas irmidas, hua dentro della que hé o Espirito Santo e hua pera o Poente que hé da Senhora Santa Anna. Hum nicho de Sam Sebastiam feito à romana à entrada da villa pera a parte do Norte. E se seguem duas filas de alamos pretos que fermoseiam hum grande paceio que finda na capella de Nossa Senhora do Caminho, a cuja Senhora se faz a sua festa solene a quinze de Agosto."
Esta é a informação escrita conhecida mais próxima, cronologicamente falando, da origem da festa. Quanto à data concreta do seu surgimento, não conheço documento que a refira.
Andor velho.
Quando, por quem e porque é que a data foi alterada, também não sei. Talvez tenha sido a Irmandade, criada no final do séc. XIX e que passou a organizar a festa até meados do séc. XX, a responsável pela mudança.
O que me parece é que, atendendo ao forte contingente de mogadourenses emigrados, principalmente a partir dos anos 60 do séc. XX, e que hoje perdura, faz todo o sentido retomar a data primitiva, proporcionando assim a todos os que vivem na diáspora a plena comunhão da festa junto dos seus entes queridos.
domingo, 27 de agosto de 2017
Recheio e composição do castelo de Mogadouro em 1759 - inventário dos bens dos Távora
Na sequência do inventário e sequestro dos bens da família Távora, ocorrido em 1759, após o processo que dizimou a nobre família, Luiz de Bivar Guerra faz-nos saber que o castelo de Mogadouro tinha a seguinte composição e recheio:
"Casas formadas no Castelo da vila de Mogadouro que constam de cinco casas altas médias e dois sobrados, um segundo andar com três quartos baixos cozinha térrea, casa da copa, cavalariças, picadeiro, pombal, com todas as suas entradas e saídas e tudo situado na torre do castelo. Dentro destas casas estavam os seguintes trastes: 17 bancas de pau castanho, umas redondas e outras quadradas sendo algumas de nogueira; 1 estante pequena de pôr livros; 2 cómodas de três gavetas cada uma com suas fechaduras; 38 cadeiras de muscóvia dobradiças; tamboretes de palhinha do norte; 5 tamboretes de pau de castanho e sua barra de choupo; 1 quadro com uma pintura de N.ª Sr.ª da Conceição; 1 oratório; 1 imagem de N.ª Sr.ª da Conceição com uma coroa de prata; 3 bancas mais, quadradas e outra com estâncias de pôr a copa; 1 barra de pau de olmo; 3 tamboretes de pau de olmo, tudo da própria casa da copa.
Tudo confiado à guarda de João Lopes de Oliveira que ficou como fiel depositário."
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sábado, 26 de agosto de 2017
Quinta do Marmoniz e a família Távora
A propósito da demanda de um antepassado do Dr. Paulo Mendo, de seu nome Manuel Martins de Mendo, que foi rendeiro e depositário da Quinta do Marmoniz, respectivamente antes e após o sequestro do património da família Távora, posso agora traçar o retrato desta estrutura patrimonial. Foi o próprio Dr. Paulo Mendo quem gentilmente me cedeu cópia da descrição constante da obra "Inventários e Sequestros...", de Luiz de Bivar Guerra, onde se escreveu o seguinte:
"Quinta do Marmoniz que consta de:
quatro casas quadradas, térreas, todas muito bem forradas e sobradadas, com quatro portas cada uma e tendo dentro os seguintes trastes: uma banca grande de pau de castanho, dois bancos de espaldar, seus tamboretes de pau de castanho e choupo. Junto desta casa a cavalariça, palheiro, quarto para acomodação de criados, casa de forno, cozinha com sua cortelha, tudo situado no meio de toda a quinta e à parte do nascente uma capela redonda, com retábulo com a imagem de São Luís em vulto, dois quadros «colaterais», um de N.ª Sr.ª da Conceição e outro de S. Francisco de Assis (...)."
A finalizar, refira-se que, de acordo com o citado autor e obra, as propriedades dos Távora foram devolvidas à família na pessoa do Conde de S. Vicente, que posteriormente as vendeu a Teodoro Pinto Basto, que, por sua vez, as vendeu à família inglesa Dagge, do Porto, que acabou por as alienar a diversos proprietários, conhecidos dos mogadourenses.
Uma nota final de agradecimento ao Dr. Paulo Costa, historiador gaiense, pela prestimosa colaboração prestada na demanda que acima referi.
"Quinta do Marmoniz que consta de:
quatro casas quadradas, térreas, todas muito bem forradas e sobradadas, com quatro portas cada uma e tendo dentro os seguintes trastes: uma banca grande de pau de castanho, dois bancos de espaldar, seus tamboretes de pau de castanho e choupo. Junto desta casa a cavalariça, palheiro, quarto para acomodação de criados, casa de forno, cozinha com sua cortelha, tudo situado no meio de toda a quinta e à parte do nascente uma capela redonda, com retábulo com a imagem de São Luís em vulto, dois quadros «colaterais», um de N.ª Sr.ª da Conceição e outro de S. Francisco de Assis (...)."
Almoço de confraternização da família Mendo, em Frechas, para o qual recebi honroso convite do Dr. Paulo Mendo, conhecido médico, que desempenhou tarefas governativas em três Executivos, tendo sido Ministro da Saúde entre 1993 e 1995. Foi uma honra e um privilégio poder confraternizar com este grande vulto intelectual, que espero reencontrar brevemente para continuarmos a profícua troca de impressões acerca da nossa História (entre outras).
A finalizar, refira-se que, de acordo com o citado autor e obra, as propriedades dos Távora foram devolvidas à família na pessoa do Conde de S. Vicente, que posteriormente as vendeu a Teodoro Pinto Basto, que, por sua vez, as vendeu à família inglesa Dagge, do Porto, que acabou por as alienar a diversos proprietários, conhecidos dos mogadourenses.
Uma nota final de agradecimento ao Dr. Paulo Costa, historiador gaiense, pela prestimosa colaboração prestada na demanda que acima referi.
sexta-feira, 11 de agosto de 2017
Barrocal: paraíso escondido
Aproveitando o título do livro que Michele Cannatà e Fátima Fernandes, "Moderno Escondido", dedicaram à arquitectura das barragens de Bemposta, Picote e Miranda do Douro, todas no Douro internacional, optei por chamar ao sítio do Barrocal, freguesia de Picote, Miranda do Douro, o "paraíso escondido". Efectivamente, a sensação com que fico de cada vez que lá vou é a de que cheguei a uma espécie de paraíso escondido no meio de nenhures. A arquitectura e a paisagem são de cortar a respiração. Apetece ficar por ali longas horas a contemplar esta magnífica simbiose entre aquilo que a pródiga mãe Natureza nos proporciona e o que as mãos geniais dos arquitectos desenharam para este local votado ao semi-abandono pela proprietária dos edifícios (a paupérrima REN, presumo...).
Os belíssimos edifícios (arquitectura da década de 50 do séc. XX), superiormente integrados na paisagem natural. Estão cada vez mais danificados, o que é uma pena. A proprietária podia perfeitamente colocá-los à venda, pois tenho a certeza de que haveria gente interessada na aquisição.
Piscina do complexo. Ao lado existe um court de ténis e ringue multi-funcional.
A singular pousada. Este edifício foi criteriosamente recuperado e encontra-se em funcionamento. O espaço natural envolvente é igualmente lindíssimo.
A igreja, de igual recorte arquitectónico moderno. Muito interessante. No local existe uma placa em homenagem ao meu conterrâneo padre Telmo Ferraz, que dedicou uma relevante parte da sua vida ao conforto destas gentes. Dessa experiência nasceu uma das mais belas e pungentes obras literárias, que podemos enquadrar no movimento neorrealista: "O Lodo e as Estrelas".
Casa de operário, com enquadramento perfeito.
Berrão, exposto no centro de Picote.
Picote também vale uma visita demorada. Quer para os amantes da arqueologia, como para os apreciadores da natureza selvagem destas latitudes. Se por lá andarem, não deixem de visitar o "Ecomuseu", onde, além dos temas do quotidiano rural, se podem observar algumas peças arqueológicas, como estes fragmentos de berrões recentemente descobertos em obras numa casa particular. A simpática guia que nos recebeu, ainda nos conduziu à sede da Associação Frauga, onde adquirimos livros e produtos da terra.
A escassos metros da Associação, existe um miradouro: a fraga do Puio. Além da gravura de um arqueiro, que mal se consegue descortinar e que, em minha opinião devia estar salvaguardada com um tipo de protecção qualquer, os visitantes podem desfrutar desta bela vista sobre o rio Douro.
Os belíssimos edifícios (arquitectura da década de 50 do séc. XX), superiormente integrados na paisagem natural. Estão cada vez mais danificados, o que é uma pena. A proprietária podia perfeitamente colocá-los à venda, pois tenho a certeza de que haveria gente interessada na aquisição.
Piscina do complexo. Ao lado existe um court de ténis e ringue multi-funcional.
A singular pousada. Este edifício foi criteriosamente recuperado e encontra-se em funcionamento. O espaço natural envolvente é igualmente lindíssimo.
A igreja, de igual recorte arquitectónico moderno. Muito interessante. No local existe uma placa em homenagem ao meu conterrâneo padre Telmo Ferraz, que dedicou uma relevante parte da sua vida ao conforto destas gentes. Dessa experiência nasceu uma das mais belas e pungentes obras literárias, que podemos enquadrar no movimento neorrealista: "O Lodo e as Estrelas".
Casa de operário, com enquadramento perfeito.
Berrão, exposto no centro de Picote.
Picote também vale uma visita demorada. Quer para os amantes da arqueologia, como para os apreciadores da natureza selvagem destas latitudes. Se por lá andarem, não deixem de visitar o "Ecomuseu", onde, além dos temas do quotidiano rural, se podem observar algumas peças arqueológicas, como estes fragmentos de berrões recentemente descobertos em obras numa casa particular. A simpática guia que nos recebeu, ainda nos conduziu à sede da Associação Frauga, onde adquirimos livros e produtos da terra.
A escassos metros da Associação, existe um miradouro: a fraga do Puio. Além da gravura de um arqueiro, que mal se consegue descortinar e que, em minha opinião devia estar salvaguardada com um tipo de protecção qualquer, os visitantes podem desfrutar desta bela vista sobre o rio Douro.
domingo, 6 de agosto de 2017
Apresentação de "O Alferes maçarico" no Festival Intercéltico (Sendim)
Foi a primeira vez que fui ao Festival Intercéltico de Sendim. Fui a convite da organização para apresentar o meu mais recente livro de contos. O evento decorreu na Casa da Cultura de Sendim e esteve integrado numa sessão de apresentação de mais três livros. Dois livros de poesia bilingues (mirandês/português), de Teresa Subtil e de outro poeta já falecido, de S. Pedro da Silva, cujo nome me escapa, e ainda um livro de contos em mirandês, de Faustino Antão.
Durante a sessão houve dois breves momentos musicais, sendo um a cargo da minha sobrinha e afilhada, Marina Lopes.
A condução (brilhante) dos trabalhos esteve a cargo de Alfredo Cameirão que com o seu habitual e refinado sentido de humor conseguiu manter a repleta plateia da sala devidamente agarrada.
Parabéns à organização e um forte abraço ao Mário Correia pela lembrança da minha pessoa, que muito me honrou.
Deixo só uma nota final em relação à gastronomia e que se aplica à generalidade do Planalto: quem quiser fugir às habituais posta, costeleta e bacalhau está lixado. Felizmente vão aparecendo algumas excepções, mas ainda muito raras. Ontem, a confirmar a regra, ficou essa nota negativa.
Durante a sessão houve dois breves momentos musicais, sendo um a cargo da minha sobrinha e afilhada, Marina Lopes.
A condução (brilhante) dos trabalhos esteve a cargo de Alfredo Cameirão que com o seu habitual e refinado sentido de humor conseguiu manter a repleta plateia da sala devidamente agarrada.
Parabéns à organização e um forte abraço ao Mário Correia pela lembrança da minha pessoa, que muito me honrou.
Deixo só uma nota final em relação à gastronomia e que se aplica à generalidade do Planalto: quem quiser fugir às habituais posta, costeleta e bacalhau está lixado. Felizmente vão aparecendo algumas excepções, mas ainda muito raras. Ontem, a confirmar a regra, ficou essa nota negativa.
terça-feira, 1 de agosto de 2017
As asneiras do convento
O deputado municipal Ilídio Martins chamou a atenção, por diversas vezes em sessões de Assembleia Municipal, para os erros que o texto em questão contém. Confesso que nunca o tinha lido na íntegra. Durante o dia é necessário um tremendo esforço e concentração para levar a cabo tal tarefa. Hoje à noite calhou ter tempo e paciência para o ler de fio a pavio. Fiquei estarrecido com a quantidade de "asneiras" que o escrito contém. Desde erros ortográficos, má construção de frases até calinadas históricas. Há para todos os gostos. É um verdadeiro fartote.
O que vale é que ninguém tem pachorra para ler aquilo...
Clicar na imagem para ampliar.
Como este e bem piores, são às mãos cheias. Sem comentários...
Comenda de S. Mamede: conflito com Penas Roias - 1 de Agosto de 1292
Como se pode verificar pela leitura deste texto, e na sequência daquilo que já aqui escrevi a propósito do primeiro foral de Mogadouro, no auge da Idade Média, Zamora desempenhou um papel importante na regulação da vida pública local. Neste caso, a questão prendia-se com um conflito acerca da cativação de taxas e impostos. Coisas normais entre as gentes da Igreja...
Clicar na imagem para ampliar.
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sexta-feira, 28 de julho de 2017
quinta-feira, 27 de julho de 2017
terça-feira, 25 de julho de 2017
Recordação de uma segada tradicional (2008)
Decorreu no
pretérito dia 26 de Julho, na aldeia de Bruçó, concelho de Mogadouro, a segunda
edição da Segada tradicional. Tal como a primeira, a organização conjunta desta
iniciativa esteve a cargo da Junta de Freguesia e do Centro Cultural e
Recreativo de Bruçó.
O evento
constituiu um autêntico passeio pela História, com a cuidadosa e criteriosa
recriação dos usos e costumes da época. Desde as vestimentas dos participantes
até aos rituais e ferramentas utilizadas, tudo decorreu como se nos
encontrássemos em plena década de cinquenta do século passado.
A concentração
teve início no Largo da Calçada, no centro da aldeia, onde foi posta uma mesa
com o “mata bicho”, ou “desinjum”, composto por pão, queijo, presunto e
salpicão, regados com água ou vinho, servidos nas tradicionais cabaças.
Depois de
devidamente afiadas as “seitouras” ou “foices” e verificadas as dedaleiras, a
comitiva arrancou em direcção ao campo, onde uma farta seara de centeio os
aguardava. Ali chegados, postou-se o “menageiro”, que é quem conduz e impõe o
ritmo, e os restantes segadores, que ao som de alguns cânticos da componente
feminina foram ceifando, respeitando sempre os procedimentos de antanho.
Após a ceifa concluída, cerca das 09.30 h, as mulheres serviram o almoço, que foi degustado em cima de toalhas estendidas em pleno restolho. Nesta refeição foram servidas as tradicionais “sopas da segada”, rijadas em azeite, como mandam os preceitos, e ainda batatas guisadas com bacalhau. Com vinho e água sempre a acompanhar. Enquanto decorria a pausa para o almoço, as mulheres continuaram a animar a jornada com cantares tradicionais e danças ao desafio.
Terminado o
repasto, foi tempo de carregar os "molhos", feitos com as “gabelas” do cereal para o típico
carro-de-bois, dando início à “carreja”. O carro de madeira, puxado por duas possantes
vacas, transportou a carga para as Eiras do Castanho, onde foram feitas medas
(ou “murnais”), que haveriam de ser malhadas e trilhadas. Após estas operações,
o grão foi limpo e ensacado, ficando pronto a seguir para as “tulhas”.
No final, por
volta das 13.30 h, foi servido o jantar, à sombra de um pequeno bosque de
carvalhos, onde esteve cerca de meia centena de pessoas. A rematar houve
cantoria ao desafio, acompanhada por música de cavaquinho e ainda o inevitável
bailarico.
A iniciativa
teve inteiro sucesso e grande adesão por parte dos mais novos, para quem tudo
aquilo foi novidade. A organização promete repetir o evento no futuro e
torná-lo um hábito na freguesia.
Antero Neto (texto publicado no jornal "Voz do Nordeste").
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