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sábado, 5 de março de 2016

As pataniscas de bacalhau do "Verbo"

Mogadouro é terra bem servida de restaurantes. Temos A Lareira, A Tasquinha, Primavera, Dias, etc... Poucas localidades se poderão gabar de tanta fartura. Há um em particular pelo qual sempre nutri simpatia: o Cantinho. À encantadora cozinha caseira de D. Elizabete, alia-se o carácter do anfitrião Luís Felgueiras. Se houver tempo, tem sempre uma história castiça para nos contar. Ontem, como tinha que estar às duas da tarde no tribunal de Bragança, fui almoçar mais cedo. Sendo nós os primeiros a entrar e tendo por almoço umas deliciosas pataniscas de bacalhau, acompanhadas por soberano arroz de tomate, tivemos direito à saga do "Verbo" e das suas pataniscas de bacalhau.
Fotografia meramente ilustrativa.
O "Verbo" era o dono de uma tasca situada na Rua Direita, em Bragança. Humilde analfabeto, gostava de se dar ares de intelectual: "quando fecho a porta, vou buscar o meu Stradivarius e sento-me a tocar num canto. Arregala-me a alma!" - confidenciava com ares de importância aos clientes mais assíduos. Naquele tempo, não havia liceu em Mogadouro e a rapaziada tinha que ir estudar para Bragança. Era o caso de Luís Felgueiras e mais alguns mogadourenses. Frequentavam o Verbo, onde as bebidas eram mais baratas e se comiam uns petiscos populares. Embora fossem mais dados ao presunto e ao salpicão, o tasqueiro conseguiu-os convencer a atirarem-se às pataniscas.
E dizia-lhes em tom desafiador: "se encontrardes alguma espinha nas minhas pataniscas, pago eu a conta!" Eles bem procuravam as espinhas, mas nada! Nem uma para amostra! Até que um dia, um deles teve uma ideia brilhante. Como lhe serviram bacalhau ao almoço, guardou uma espinha no bolso e levou-a com ele. Havia de ser aquela que ia tramar o Verbo!
Abordou os restantes e disse-lhes: "hoje podemos comer e beber à vontade, que quem vai pagar a conta há-de ser o Verbo!"
Assim fizeram: toca de encher a mula como deve ser! Quando já estavam fartos, o nosso protagonista chamou o dono da tasca e, exibindo-lhe a espinha que tinha levado no bolso, atirou: "hoje pagas tu a conta! Encontrei esta espinha nas pataniscas!" Os outros secundaram-no. Era verdade, sim senhor!
Calmo e com a habitual prosápia, o Verbo sentenciou o episódio: "isso não pode ser, rapazes. As minhas pataniscas não levam bacalhau!"

Post Scriptum: após a divulgação deste post no Facebook surgiram alguns comentários que obrigam a rectificação: seria "Berbo" e não "Verbo" (o que tem lógica). E afinal, não era analfabeto e tinha mesmo um violino, embora não fosse Stradivarius. Muito obrigado aos comentadores, em especial ao Estácio Araújo.

domingo, 18 de novembro de 2012

Bragança com história...

Domingo soalheiro, convidou a uma viagem até à capital de distrito. Confesso que gosto da parte antiga de Bragança. Particularmente da zona histórica, onde me perco a divagar pelas ruelas inclinadas, que conduzem à fortaleza que a encima. Uma paragem no Museu do Abade de Baçal (que, por uma questão de justiça se deveria chamar "Museu do Coronel Albino Pereira Lopo", o distinto mogadourense que foi o verdadeiro "pai" do museu), para, mais uma vez, mergulhar nos achados arqueológicos do distrito e tentar sensibilizar a prole para os seus encantos. Não obstante alguns erros na "legendagem" de algumas das peças (numa delas pode ler-se, por exemplo, que é proveniente de S. Martinho do Vale do Peso, Mogadouro. Outra está identificada como estela funerária, quando efectivamente se trata de uma mó manual), é sempre um tremendo prazer demorar-me perante cada uma delas.
Aqui ficam alguns pormenores da cidadela...
Fotos: Antero Neto.