Há pessoas que marcam, de forma indelével, a nossa existência. O meu tio-avô Guilherme Gemelgo (irmão de minha avó paterna) foi uma dessas pessoas. Na história que conto dele, que integra o meu próximo livro de contos (já no prelo), explico o porquê. Bem haja à sra Berta Rito por me ter facultado esta foto dele.
Este foi o meu avô imaginário...
figuras, património, lugares e histórias que fazem (e fizeram) o quotidiano mogadourense
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quinta-feira, 11 de outubro de 2012
quinta-feira, 10 de abril de 2008
O tio Guilherme
O meu tio-avô Guilherme Gemelgo foi a personagem que mais marcou, afectivamente falando, a minha infância. Mal chegávamos a Bruçó, os meus pais diziam-nos: ide visitar os avós. Nós tinhamos dois caminhos alternativos: ou pelo meio da aldeia, ou então, pela colaga do Picote e pela Praça. Escolhíamos sistematicamente esta segunda via. Porquê? Porque assim passávamos em frente à casa do tio Guilherme. Como era hábito, ele convidava-nos a entrar. E, uma vez lá dentro, o ritual repetia-se, para grande gozo do velhote. Primeiro dizia-nos:
- Quereis bolachas?
E nós, a devorarmos as bolachas Maria com os olhos, mas envergonhados:
- Não, tio.
E ele, sempre bem-disposto e a adivinhar o inevitável desfecho:
- Ah burros, burros... Então não quereis, é? Ah burros, burros...
Claro que acabávamos por aceitar e por degustar o pitéu... Mas aquele pequeno teatro divertia o velho à brava.
Um dia, vinha ele a subir as arribas, montado no seu macho, e ia dando instruções ao animal:
- Põe a pata ali. Põe a pata acolá. Cuidado com o buraco. Desvia-te.
Aquelas veredas estreitas metiam medo. E o velho dava instruções ao bicho, prevenindo assim uma queda que poderia ser fatal. O macho, fosse pela rédea curta, fosse pela falta de espaço, ia obedecendo ao meu tio.
Até que, a determinado passo, o animal falhou e colocou a pata no vazio, acertando em cheio num buraco. O velhote desequilibrou-se e quase caiu. Quando se endireitou, completamente lívido e a transpirar, puxou do lenço vermelho que sempre o acompanhava. Secou a testa. Respirou fundo. Virou-se para o macho e disse, com a voz meio embargada pela emoção:
- Ah ladrão, que falso me foste! Eu a ti não to fazia!
- Quereis bolachas?
E nós, a devorarmos as bolachas Maria com os olhos, mas envergonhados:
- Não, tio.
E ele, sempre bem-disposto e a adivinhar o inevitável desfecho:
- Ah burros, burros... Então não quereis, é? Ah burros, burros...
Claro que acabávamos por aceitar e por degustar o pitéu... Mas aquele pequeno teatro divertia o velho à brava.
Um dia, vinha ele a subir as arribas, montado no seu macho, e ia dando instruções ao animal:
- Põe a pata ali. Põe a pata acolá. Cuidado com o buraco. Desvia-te.
Aquelas veredas estreitas metiam medo. E o velho dava instruções ao bicho, prevenindo assim uma queda que poderia ser fatal. O macho, fosse pela rédea curta, fosse pela falta de espaço, ia obedecendo ao meu tio.
Até que, a determinado passo, o animal falhou e colocou a pata no vazio, acertando em cheio num buraco. O velhote desequilibrou-se e quase caiu. Quando se endireitou, completamente lívido e a transpirar, puxou do lenço vermelho que sempre o acompanhava. Secou a testa. Respirou fundo. Virou-se para o macho e disse, com a voz meio embargada pela emoção:
- Ah ladrão, que falso me foste! Eu a ti não to fazia!
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