segunda-feira, 21 de julho de 2008

Carapaujête

Segundo me contaram, Carapaujête era um velho peliqueiro de Vilar do Rei. Chegado aos setentas, ainda sentia forças para satisfazer fêmea. Livre e desimpedido, ansiava por mulher que o completasse.
Um conterrâneo mais arguto, conhecedor dos anseios do ancião, resolveu meter-se com ele. Um belo dia, andava Carapaujête à volta da alquitarra, a apurar a aguardente, o vizinho chegou-se ao pé dele e disse-lhe com o ar mais sério do mundo:
- Ti Alfredo, já ouviu a novidade?
- Não! Qual novidade?
- Acabou de chegar à Cooperativa da vila um autocarro cheio de brasileiras. Todas novas e boas c'mó milho!
- Bô! A sério?
- A sério!
Carapaujête, perante a boa nova, tratou de arranjar transporte para Mogadouro. Azar dos azares, naquele dia não ía ninguém à vila. Sem outro recurso, aparelhou a burra e meteu-se a caminho. Não sem antes deixar uns trancos mais grossos a arder debaixo do pote da aguardente.
Afoito, chegou à Cooperativa a prescrutar as redondezas, em busca das ninfas de Vera Cruz. Não vendo ninguém, dirigiu-se ao encarregado do armazém, o Ti Henrique:
- Ó Henrique, atão onde está o autocarro com as brasileiras?
Este, embora surpreendido com a questão, ouviu a história, e apercebendo-se da trapaça, não se descoseu:
- Está com azar Ti Alfredo. Se tem chegado cinco minutos mais cedo ainda tinha apanhado alguma...
Para cúmulo do desgosto, quando Carapaujête chegou a Vilar do Rei, tinha a potada de aguardente toda pegada!