segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ernestina


Ultimamente tenho andado dedicado às leituras académicas. Sem me aperceber, tenho negligenciado a literatura propriamente dita. Mas, em abono da verdade, também não me sentia seduzido. Se começava a ler J. Rodrigues dos Santos, ou Dan Brown, ficava com a sensação de estar na presença de um guião de BD ou de cinema, com a agravante de faltarem as imagens. Se começava com os últimos de Lobo Antunes ou de Saramago, aborreciam-me. Já não me surpreendem. Parece-me sempre mais do mesmo.
Parece mal admiti-lo, mas nunca tinha lido nenhum livro de Rentes de Carvalho. Pior ainda, não encontrei nenhum à venda em Mogadouro. No sábado passado, tendo que queimar tempo por Braga, deambulei pelas livrarias, e, de repente, dei de caras com Ernestina. Curioso, comprei o livro e comecei de imediato a folheá-lo. E nem o bulício do Centro Comercial me conseguiu abstrair da leitura. Nem, mais tarde, já em Vieira, com os meus filhos a brincarem ruidosamente à minha volta, consegui despegar a vista das páginas de Ernestina.
O narrador conduz-nos alternadamente entre o bucolismo rural de Estevais, Mogadouro e as ruas esconsas e agitadas de Vila Nova de Gaia. De permeio, viajamos com ele através da magnífica Linha do Douro. Um sorriso aqui, uma gargalhada acolá, e uma lágrima que teima em espreitar, acompanham a saga da família do autor, pintalgada a traços de génio.
Um grande bem haja ao autor por este legado.