terça-feira, 24 de abril de 2012

A propósito de património colectivo

Estela funerária encontrada em Sanhoane (Sala Museu de Arqueologia de Mogadouro)

Depois de colocar o post anterior recebi algumas reacções que impõem esta reflexão. Como me parece óbvio, o património, seja ele arqueológico, ou de outra índole, nomeadamente imaterial, é de todos. E quando digo de todos, quero significar mesmo de todos, sem barreiras geográficas a atrapalhar. Esta questão é antiga. Reportando-me a um exemplo sobejamente conhecido, lembro o caso de Napoleão Bonaparte, que pilhou todos os lugares por onde "viajou". Pergunto eu: terá legitimidade a França para reter aquele património? Parece-me claramente que não. São opiniões...
A nível regional, tivemos o exemplo do Abade de Baçal. Trago agora a terreiro o seu relacionamento com o Padre António Maria Mourinho. Num livro recente (2005), que se pode encontrar em Miranda do Douro, é dissecada a relação epistolar entre ambos (1941-1947). E nessa troca de correspondência, surge um pormenor interessante: de um lado, o Abade a pedir a Mourinho que lhe enviasse umas estelas que tinham sido referenciadas em terras de Miranda. Do outro, o Padre a fazer-se despercebido e a não lhas enviar. Após 3 ou 4 cartas a solicitar os bons ofícios do sacerdote para a remessa das pedras, escreve Mourinho em anotação à missiva do Abade: "As lápides não lhe esquecem".
Pormenor curioso e delicioso que revela o ânimo de Mourinho (1917-1996) em preservar na terra, aquilo que é da terra. Se as querem ver, que as venham cá visitar! Eu sou por António Maria Mourinho. A Mogadouro, o que é de Mogadouro!