domingo, 28 de outubro de 2012

Lagar romano em Tó

Há muito que o amigo José Eiras, lá de Mirandela, me tinha sugerido uma visita ao lugar da "Manuela", no termo da freguesia de Tó. Curiosamente, foi uma Manuela, no caso a Manuela Rodrigues, que teve um papel importante na visita. Contactou a D. Balbina Silva que, com extrema simpatia e disponibilidade, teve paciência para nos conduzir ao local desejado: o lagar romano, cavado na rocha.
Iniciámos o percurso pedestre junto à entrada da Quinta das Xaras, pertença da família Moraes Machado.
Mais abaixo, passámos por outra quinta, cujo nome me escapou, mas com dois belos pilares a demarcar a entrada.
O percurso foi longo, mas divertido. As preocupações da D. Balbina revelaram-se infundadas: os miúdos nunca se negaram.
Deu para coleccionar pedras de diferentes formatos e cores e até para tirar o retrato ao sumagre - planta que chegou a ser uma das principais fontes de rendimento do vale do Douro (ocupando lugar cimeiro nas exportações para o norte da Europa - destinava-se ao curtimento das peles. Localmente, também servia para tingir lã).
Aspectos pitorescos da azáfama que se aproxima na safra da azeitona.
E, eis o lagar cavado na rocha. Lá está, num plano superior o espaço onde eram esmagadas as uvas (calcatorium); o buraco de escoamento e, num plano inferior, o pio (lacus).
Devido ao reduzido tamanho do pio, o mosto não fermentava no local. Era levado, após a pisa, para a adega, onde fazia a fermentação alcoólica. Alguns lagares possuíam ainda o equipamento para prensar as peles e os engaços (torcularium). Neste caso, desconhece-se se ali existiu mais alguma coisa. Saliente-se que em Tó, no centro da aldeia, existe um lagar equipado com prensa de fuso (vide post anterior sobre ). Esta técnica de prensagem remonta igualmente à época romana. Os lagares cavados na rocha, na maior parte dos casos, encontram-se localizados onde em tempos coevos se cultivou a vinha, mas que, entretanto, deixou de existir. Na descida para o local, observaram-se sobretudo oliveiras, mas ainda foi possível vislumbrar, aqui e ali, um ou outro bacelo.
Manuela Rodrigues, Balbina Silva, Antero Neto (foto: Ritinha).

Mais uma tarde para recordar na aldeia de Tó. A Manuela Rodrigues, minha antiga colega de escola, após vários anos na Holanda, recuperou a casa dos avós em Tó e instalou lá uma unidade de Alojamento Local. A D. Balbina Silva é a maior especialista local em ervas aromáticas (que comercializa nos certames dedicados ao artesanato) e é igualmente uma apaixonada pelo património e história local. Ficou prometida nova visita para desvendar outros pontos de interesse toleses.
Fotos: Antero Neto.