quarta-feira, 10 de julho de 2013

Religião e moral na Castro Vicente do séc. XIX

Em tempos que já lá vão, existia em Portugal o hábito de fazer visitações às paróquias. Essas visitações tinham como objectivos aferir o estado das igrejas locais, bem como inquirir acerca dos costumes das populações, nomeadamente no que à moral dizia respeito. Estas visitações proporcionam-nos um retrato social daqueles tempos e relatam-nos episódios verdadeiramente deliciosos (já aqui retratei uma situação respeitante à aldeia de Vale de Porco). São uma espécie de revista "Maria" da época, mas com mais picante. O concelho de Mogadouro foi bastante visitado por estes inquiridores e há histórias bem interessantes. Aqui fica um relato sobre dois presbísteros de Castro Vicente:
Foto: Antero Neto.

"É natural desta freguesia o presbítero João Bernardo de Sá Aragão, de idade de 40 anos, recebeu ordem de presbítero em 1830; (...) tem aptidão física para o serviço paroquial; a sua conduta religiosa e moral não tem sido a mais ilibada (...)"
"Tem mais esta freguesia o presbítero Mateus José da Rocha, ordenou-se de presbítero em 1820; (...) a sua conduta moral e religiosa é e tem sido indecente e escandalosa, por ter vivido publicamente ameigado com uma mulher chamada Ludovina, de quem tem tido diversos filhos; a conduta civil e política foi sempre má, por ser exaltado, denunciante e perseguidor no tempo da usurpação (...); está em boa disposição física para paroquiar."
(Inquérito de 1845).

Como se vê, a moral e a religião nem sempre andaram de mãos dadas, na perfeita harmonia do Senhor. Quem diria...

Nota: fica aqui o agradecimento ao Dr. Carlos Seixas, ilustre advogado e investigador moncorvense, por me ter facultado estes elementos.