sábado, 21 de dezembro de 2013

Gravuras rupestres em Palaçoulo - parte II

Nova incursão arqueológica por terras de Palaçoulo (topónimo derivado do latim "Palatiolum"), onde, para não variar, fomos recebidos de forma hospitaleira (poderá haver gente que receba tão bem como esta, mas, melhor não há!). A guiar-nos ao abrigo rupestre do Passadeiro, primeiro local de paragem, foi António Cangueiro, proprietário do restaurante "Imperial" (onde, a concordar com o nome, se come muito bem. Nós até íamos com esperança de degustar uma francesinha, mas hoje não deu. Fica para uma próxima oportunidade).

 Dois dos vários painéis de gravuras filiformes.
 Painel com uma figura zoomórfica, que poderá ser um auroque, um cavalo, ou um boi.
 Meu irmão João e o Pimenta de Castro em frente ao conjunto de arte rupestre.
António Cangueiro a desbravar caminho por entre as silvas que ocuparam a antiga passagem.

Dali fomos até à aldeia, onde na sede da associação local tivemos o prazer de degustar um belo repasto de febras assadas na brasa, a convite do chefe da Mocidade e de Armandino Guerra. Serviram-nos algumas pingas de excelência (com uma falha grave que a qualquer um pode suceder: houve alguém, muito distraído, que nos colocou na mesa "Pauliteiros"! Vade retro Satanás! O Pimenta até ficou doente!). E dali, Armandino ofereceu-se para nos conduzir ao segundo painel rupestre sito no Carvão.
Painel de gravuras do "Carvão". Este sítio encontra-se extremamente degradado. Fiquei convencido de que se trata de um local onde terão sido efectuadas sondagens e pequenas explorações mineiras que contribuíram para a destruição quase total do conjunto de arte rupestre.
Pimenta de Castro, João Neto e Armandino Guerra junto ao painel.
No local existem as ruínas de um moinho. Um pormenor que me chamou a atenção foi o facto de o canal de abastecimento de água ter sido escavado directamente na rocha. Nunca tinha visto um semelhante.
Saliente-se que todos os painéis de arte rupestre observados em Palaçoulo se localizam junto a cursos de água (como, de resto, é regra geral. Com excepção do painel de Travanca, Mogadouro, que ainda dista um bom bocado da ribeira).
Observado o conjunto, fomos até às Quatro Marras, que é uma gravura cruciforme, numa rocha saliente que, segundo relatou Armandino, serviria para delimitar a confrontação dos territórios de quatro aldeias vizinhas.
Apesar de os líquenes dificultarem uma completa observação da gravura, pude reparar que cada um dos braços da cruz tem, por sua vez, uma pequena cruz na ponta.
Observadas as gravuras, subimos ao ponto mais alto do termo, de onde pudemos vislumbrar territórios de Mogadouro, Vimioso e Macedo de Cavaleiros.
Depois, foi tempo de rumar a Prado Gatão, com passagem por Fonte Ladrão, enquanto íamos anotando pequenos pormenores deliciosos pelo percurso difícil que a perícia do condutor e a emoção de um passeio todo-o-terreno enriqueceram.

Chegados a Prado Gatão, visitámos uma casa plena de charme e história e ainda a capela arruinada da Macieira.
 Cozinha lindíssima (ainda só tinha visto algo semelhante no Museu Abade de Baçal, em Bragança).
Fotos: Antero Neto 
(clicar nas imagens para ampliar)
Ainda nos convidaram para o jantar da "Troika", mas o dia já ia longo e o corpo pedia descanso. Fica para uma próxima.

Notas:
1. existem painéis de gravuras idênticas às do Passadeiro na barragem da Pracana, no rio Ocreza, entre os distritos de Santarém e Castelo Branco.
2. Consultei bibliografia sobre o abrigo do Passadeiro e não encontrei qualquer referência à gravura zoomorfa, pelo que deduzo que seja uma observação pioneira, que se deve ao Pimenta de Castro.