quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Castanhas cozidas

Rumei a Coimbra, para finalizar os estudos secundários, no final do Verão de 1986. Fiquei hospedado num quarto sito na Rua Castro Matoso. Calharam-me na rifa dois colegas: um madeirense e um alemão. O teutónico, de seu nome Jochen Feldt, natural da região de Estugarda, nunca tinha comido castanhas.
Foto retirada da net.
Minha mãe, com o habitual zelo das progenitoras transmontanas, não me deixava faltar nada. Com periodicidade quinzenal, lá ia eu esperar o autocarro da Viúva Carneiro, ao Largo da Portagem, onde invariavelmente vinha uma caixa de papelão com uma qualquer iguaria cá do burgo. As incontornáveis castanhas chegaram por esta altura. Munido de um pequeno e prático fogareiro, cozi uma panelada delas. O Jochen, deliciado com o inusitado petisco, até lambia os dedos.
No dia seguinte, a velha senhoria chegou ao quarto e quis indagar se o hóspede estrangeiro estava satisfeito com a companhia. E, como se o tom de voz a fizesse entender, dirigiu-se ao Jochen e perguntou-lhe em voz alta e pausada:
- "Então, está contente com o seu colega?"
O rapaz olhou para mim. Depois olhou para ela. Abriu um sorriso de canto a canto, esticou o polegar para cima e declarou de forma solene e no português que lhe era possível:
- "Catânhas cocidas, muita bom!"