domingo, 7 de fevereiro de 2016

O Zangarrão

Na aldeia de Fornos, concelho de Freixo de Espada à Cinta, "Era no Entrudo, "carnaval" não fazia parte do vocabulário, que se corria o "zangarrão". Tinha este "mostrengo" véstia própria, feita de trapos e farrapos, forquilha de hastes como a do Diabo e, o mais característico da figura, uma máscara horrenda, mista de homem e irracional, que escondia completamente as feições reais do intérprete. 
Corria o povo, forquilha em riste, ameaçando tudo e todos, procurando em especial a rapaziada, que fugia a sete pés das suas investidas. Parava em todas as escaleiras e aguardava que as mulheres da casa viessem aos balcões; estendia a forquilha ao alto, enganchava nas hastes morcelas, chouriças, azedos e um ou outro bucho que as mulheres lhe davam e que depois metia na sacola que adrede levava consigo. As "velhinhas" (figurantes protectoras do Zangarrão) empunhavam verdascas folhadas de olmo ou castanheiro." (Amadeu Ferreira, in "Quem vê o seu povo...", citado por Pimenta de Castro, in "Os Palheiros de Fornos").
Estátua representando o "Zangarrón" de Montamarta, em Espanha (província de Zamora).

O "Zangarrão" também existiu em Lagoaça, segundo o site do IELT. Ainda segundo esta fonte, a figura também saía na aldeia de Bruçó (Mogadouro), mas nos dias de Ano Novo e de Reis. Contudo, já há muito tempo que deve ter deixado de sair, pois não se conservou memória oral do ritual entre os actuais habitantes (pelo menos, que eu tenha conhecimento...).