quarta-feira, 25 de maio de 2016

Espionagem e traição - 1580

Numa altura que está tão em voga o tema da espionagem, graças ao caso do agente do SIS que foi apanhado a vender segredos aos serviços secretos russos, cumpre aqui relembrar algumas situações que envolveram a nossa terra à data da tomada de poder pela dinastia dos Filipes após o desastre de Alcácer Quibir. Os nobres locais pautaram a sua conduta pela covardia e traição, oferecendo ao invasor todas as informações e condições necessárias para que a intrusão se tornasse num alegre passeio militar. Um dos espiões aconselha mesmo o Conde de Alba a entrar por Miranda, Bemposta, Mogadouro e Mirandela que eram possessões de Luís Álvares de Távora e que logo se renderiam.
"D. Leonor Henriques, mãe e tutora de D. Luís Álvares de Távora, apresenta ao rei Filipe II todos os serviços prestados  «para trazer gente passante de 10.000 vassalos para o lado de sua Majestade, em detrimento de D. António, Prior do Crato». Por isso pede ao rei «que fizesse mercê que as vilas de Mogadouro, Mirandela e Alfândega e lugar de Sambade e alcaideria mor de Miranda que aquela casa tem de mercê e agora as tem seu filho em sua vida lhe fique de juro e que a comenda que seu filho agora tem, fique por duas vidas mais». Pelo que se depreende deste documento, Filipe II fazia-lhe mercê só por uma vida da Alcaidaria mor e do ofício de couteiro mor das caças das perdizes. Dona Leonor diz que a casa de Távora é das mais antigas e honradas do reino e que as ditas vilas e comenda andaram sempre nela sem haver memória de nome em contrário.
Queixa-se esta nobre senhora do pouco que lhe é concedido em comparação com outras pessoas que fizeram menos por sua Majestade e receberam muito mais." (António Rodrigues Mourinho, in "Brigantia", Vol. XII, N.º 2, 1992).