quinta-feira, 9 de junho de 2016

Histórias de antanho

A recuperar de delicada operação ao cérebro, minha mãe conserva intacta a memória prodigiosa que lhe permite desfiar complexos novelos de intrincadas relações familiares e relatar histórias de antanho, que me deliciam e me fazem sonhar com um passado rico de relações comunitárias, numa aldeia outrora plena de gente.
Uma dessas viagens conduziu-me a um longínquo parente e ao início do seu historial de família. O então rapazote deixou-se seduzir por donzela que, segundo os parâmetros de compatibilidade conjugal da época, não estava reservada para a sua humilde condição social.
Mas, isso não o desanimou. Tanto porfiou, que acabou por arranjar maneira de marcar encontro secreto com a sua musa. Levou consigo um parente que ficou de atalaia, para assegurar que ninguém perturbaria os pombos no ninho do amor (acabou por ser ele o relator da aventura, visto que as escassas paredes de tabique não abafavam os sons).
Uma vez instalados, o rapaz buscou com sofreguidão o prémio que lhe permitiria ultrapassar a mais que previsível resiliência parental. Entrou com tudo. Ela soltou um sonoro gemido:
- "Ai Antonho, que já está cá drento!"
Triunfante, o macho, ciente da conquista irrevogável, rematou:
- "Já eze minha, caralho!"