segunda-feira, 31 de março de 2008

Burro por Lontra

O clássico "gato por lebre" sofreu, na aldeia de Bruçó, uma variação: burro por lontra. Em tempos idos, morava nesta aldeia um guarda-fiscal de nome Teixeira. Fazia parte de uma tertúlia que gostava de um bom "fado" (mudam-se os tempos, mas não se mudam os hábitos... eh,eh,eh...). Como trabalhava perto do rio, prometeu aos "compadres" um repasto de lontra. Mas nunca mais apanhava o raio do bicho. Por isso, um dia resolveu "cumprir" o prometido. Mas sem a lontra. Como havia um vizinho que tinha um burreco com cerca de um mês, comprou-lho. Deu 20 escudos a três rapazolas para que o preparassem (entre os quais o Ti Adérito "Gaiteiro"). Estes mataram-no e esfolaram-no. A esposa do Teixeira cozinhou-o no forno do Ti Pastor, na Barreira.
Os convidados chegaram e deliciaram-se com o rico repasto. Os rapazes estavam em baixo, na adega, a comer azeitonas e a beber vinho. A certa altura, com o fel já meio avinagrado pela pinga, e fartos de ouvir os outros dizerem que aquilo estava delicioso, e como não lhes tocava nada, resolveram abrir o jogo. Um deles colocou a pele do burro à volta do pescoço, agarrou na cabeça do bicho e subiu as escadas. Entrou na sala e disse-lhes:
- Olhai a lontra que estais a comer! Estais a ver a cabeça dela?
Feito isto atirou para a mesa com os restos do burrico.
Segundo conta o Ti Adérito, uns começaram a vomitar; os outros ficaram brancos.
Os rapazes riram-se à tripa forra e aproveitaram para comer o que ainda sobrava na travessa...