quinta-feira, 27 de março de 2008

Divagações

O vento gélido fustigava-me a face. Soprava como se não houvesse amanhã. E que saudades eu tinha deste vento! Anos passados junto ao litoral, tinham feito desvanecer esta sensação. O gosto doce e suave da maresia quase tinha apagado da minha memória esta sensação de nudez. Este sentimento de vassalagem às verdadeiras forças da natureza. O prazer era tanto, que nem sentia o frio a penetrar. Foi como se a infância me tivesse absorvido de novo. Como se não tivessem passado por mim os imensos anos de cidade... Como se o tempo não me tivesse roubado a seiva...
Era a terra a reclamar o que era seu!
A voz acordou-me do torpor:
- Anda p'ra dentro e bebe um copo, rapaze! Olha c'aí inda t'atreces!

(Extracto de conto inédito).