domingo, 30 de março de 2008

Histórias de Bruçó

Um destes dias vou ter que me sentar com algumas pessoas de Bruçó. Levar o gravador e, quando houver oportunidade, publicar um livro com as histórias deliciosas que me contam. Uma dessas pessoas é o Ti Américo Rentes. Conhece e conta histórias como ninguém. Aqui vai uma, contada na adega do Manel Aderitinho:
O Ti Valente, que já morreu há muitos anos, era um folgazão nato. Gostava de contar histórias e de entreter a rapaziada. Aos mais novos contava histórias da Lua (quando se começou a falar da ida à Lua pelos americanos). Dizia ele à pequenada que havia uma burra que era capaz de ir até à Lua. E que nesse planeta as ruas eram compostas de moletes, os passeios de bolachas e que os rios eram de vinho. Excepto um, que era de água). os rapazes sonhavam com esse planeta fantástico (numa altura em que não havia televisões, isto era puro ouro).
Mas... o Ti Valente também era malicioso. Um dia, decidiu pregar uma partida ao Ti Parada (também ele já falecido). Quando este lhe perguntou como é que havia de fazer para transplantar umas cabaceiras para Caravelas, o Ti Valente disse-lhe que tinha que arrancar as plantas e deixá-las a secar um pouco ao sol. O Ti Parada assim fez. Deixou-as secar e só depois é que as replantou. Escusado será dizer que nem a primeira vingou...
Quando confrontado com o facto, o Ti Valente, sem perder a compostura, indagou-lhe:
- Mas, olha lá! Tu regaste-as?
E o outro:
- Reguei!
Resposta pronta:
- Está visto! Estragaste tudo, home!
Esta história correu pelo povo, e o último foi alvo da chacota generalizada. Mas, apercebendo-se disso, foi preparando a vingança. E, num belo dia de inverno, quando nevava que Deus a dava, lembrou-se e chegando à porta do Ti Valente, o Ti Parada fê-lo levantar da cama e disse-lhe:
- Ó Ti Valente, olhe que andam umas ovelhas a comer-lhe o pão, lá para Caravelas. Vá lá depressa, senão não salva nada!
O Ti Valente, sem suspeitar da trapaça, calçou os socos e foi num ápice até Caravelas (que dista cerca de 4 km da aldeia!). Ali chegado, não encontrou rasto de ovelha. Zangado, quando encontrou o outro disse-lhe:
- Ó malandro, enganaste-me!
E o Ti Parada respondeu:
- Não acha que estamos pagos?