Neste período conturbado da História portuguesa, prenhe de lutas fratricidas, em que se jogava o futuro da nação, o concelho de Mogadouro não passou incólume. Com absolutistas (ou realistas, ou miguelistas) de um lado e liberais (ou constitucionalistas) do outro, o país foi atravessado por frequentes episódios de guerra civil, que opunha vizinhos e irmãos, num dos quadros mais negros do nosso passado comum.
Em 1828, quando os partidários de D. Miguel tomam o poder, após vários cenários de alternância, surgem as chamadas "devassas". As devassas foram julgamentos a que foram submetidos os partidários de D. Pedro - os constitucionalistas. Em Mogadouro foram vários os que foram julgados e presos. Segundo refere o historiador António Monteiro Cardoso ("A Revolução Liberal em Trás-Os-Montes"), este concelho foi dos mais causticados pela justiça miguelista. Assim, e de acordo com aquele estudioso, no concelho de Mogadouro foram processados 76 indivíduos, que atravessaram todos os estratos sociais da época. Os mais ilustres de entre os devassados foram António José de Morais Pimentel Sarmento Sampaio Pinto de Sousa Bacelar (ex-juíz de fora), António Vitorino de Morais Machado (escrivão de órfãos e ex-capitão de milícias na luta contra os franceses), o seu filho bacharel Francisco Casimiro de Morais Machado, e o major de ordenanças José António Pegado de Oliveira, cavaleiro da Ordem de Cristo.
A par destas figuras ilustres, foram muitos os populares de Vilarinho dos Galegos e de Lagoaça (que na altura integrava o concelho de Mogadouro), que, por se dedicarem ao comércio (os almocreves) constituiam séria ameaça, pois viajavam muito e propagavam facilmente as ideias liberais.
No entanto, apesar da condenação, muitos deles conseguiram manter-se em liberdade, gozando da complacência das autoridades locais, de refúgios temporários em Espanha e do apoio do povo. António e Francisco Morais Machado só viriam a ser detidos em Maio de 1832, juntamente com João Famoso, na casa do primeiro, onde se encontravam escondidos numa divisão de madeira dissimulada entre a escada e a parede, especialmente concebida para esse efeito.