sexta-feira, 18 de março de 2011

Mogadouro Templário

O actual concelho de Mogadouro é rico em referências da Ordem do Templo. Penso que não seria descabido pensar em criar uma “Rota dos Templários”, potenciando assim, em termos de aproveitamento turístico, o rico legado patrimonial que herdámos da sagrada Ordem.

Pormenor da ponte Templária sobre a ribeira de Bastelos (Foto: Antero Neto)
Falar de Templários remete-nos obrigatoriamente para uma miríade de fantasias, lendas e misticismo, exploradas até à exaustão pelo cinema, pela literatura e até pela banda desenhada. Daí que se possa apropriadamente falar num filão de marketing que pode e deve ser explorado em benefício da promoção local.
Os Templários assentaram arraiais de ambos os lados da fronteira luso-leonesa, dominando uma larga fatia territorial que vai desde Mogadouro às terras de Aliste e Zamora, numa época em que o conceito político-administrativo de divisão fronteiriça era bastante difuso e cedia facilmente perante as necessidades das populações raianas, que transitavam de um lado para o outro, ao sabor das necessidades económicas.
A implantação inicial da Ordem do Templo nestes locais recônditos prende-se com a estratégia real de retirar poder às pretensões de uma classe emergente de pequenos senhores feudais que, de ambos os lados, procuravam estabelecer domínios próprios, à custa de território das coroas.
Castelo de Penas Roias (Foto: Antero Neto).
A primeira notícia do estabelecimento dos Templários em Mogadouro é-nos fornecida pela bula papal, de Urbano III, que em 1187 confirma à Ordem as doações feitas por D. Afonso Henriques dos “oppida” de “Langoram scilicet et Mugadorum”.
Curiosamente, na altura em que D. Sancho I recupera as fortalezas de Mogadouro e Penas Roias (por troca com Idanha-a-Velha), Afonso IX faz exactamente o mesmo do lado de lá, com as fortalezas de Alcanices e Alba de Aliste.
Os Templários haveriam de voltar a dominar Mogadouro, em 1222, ficando com verdadeiros poderes senhoriais, uma vez que o concelho lhe paga um dízimo e rendas variadas. Na mesma altura assumem o controlo das rendas auferidas pelas igrejas de Mogadouro e Penas Roias. Este domínio durou até 1272, quando Afonso III concede foral a ambas as localidades, estipulando expressamente que o rei se apropria “quantum freyres de Templo tenebat ad suam manum in Mugadoyro et in terminis suis”.
Na área do concelho de Mogadouro ficaram como principais marcos templários o castelo de Penas Roias, cuja planta se atribui a Gualdim Pais (embora assente sobre estruturas defensivas anteriores), a igreja de Algosinho e a ponte sobre a ribeira de Bastelos, entre Azinhoso e Penas Roias. Haverá eventualmente outros, ainda não inventariados ou referenciados.
Desconhece-se a origem do castelo de Mogadouro, que foi sendo adulterado ao longo dos tempos, acabando por ser transformado em paço residencial pelos Távoras, e assim se mantendo até à sua destruição parcial em meados do séc. XIX.

Pormenor da igreja de Algosinho (Foto: Antero Neto)
Fontes consultadas: OLIVEIRA, Nuno Villamariz – Castelos Templários em Portugal; VISO, Iñaki Martín – Asentamientos templarios…

Nota: artigo da minha autoria, originalmente escrito para o blogue "Farrapos da Memória", que aqui se reproduz.