domingo, 23 de dezembro de 2012

O buraco do Padre António - Bemposta

Como o prometido é devido, aqui fica a reportagem sobre a visita ao chamado "Buraco do Padre António", no termo de Bemposta, junto ao rio Douro. O autarca local, António Martins, disponibilizou-se mais uma vez para nos acompanhar. E bem preciosa se revelou a sua ajuda, pois de outra forma seria impossível atinar com o sítio. A tarde esteve a preceito e a viagem foi muito agradável, na companhia do já referido António, da minha "equipa" familiar e dos amigos Isaías Cordeiro, da esposa, D. Fernanda e do Pimenta de Castro.
Sensivelmente a meio do caminho, fizemos uma breve paragem para observar a barragem.
Bem como a magnífica paisagem proporcionada pelos socalcos lavrados na arriba espanhola, que impressionam pela dimensão e configuração únicas!

Mas, voltando ao "buraco", vejamos o que dele dizem Manuel de Jesus Bento Fernandes e José Carlos Dias Pereira na sua magnífica obra monográfica "Bemposta, um tempo, um ser":
"Por altura da implantação da República, nem todos os cidadãos aderiram à nova política. Conta-se que, em Bemposta, o Padre António, irmão da avó da Sr.ª Ana Marta, se manteve como monárquico. Face à época revolucionária, não teve outra solução  que esconder-se, na perspectiva de surgir outra solução política. Em colaboração com a família foi passando o tempo escondido, ora deslocando-se para o buraco, que ficou conhecido pelo "buraco do P.e António", junto do rio Douro onde cabem muitas ovelhas, ora recorrendo à "Fraga dos Borrachos", onde existe uma cova de difícil acesso (...) A família (...) levava comida, para a sua sobrevivência".
Só duas pequenas observações:
- parece-me que os ilustres autores confundem o buraco do padre propriamente dito, com a gruta onde se abrigavam as ovelhas e que fica mais abaixo, junto ao leito do rio.
- Em Bruçó, na mesma época, houve uma história parecida, que minha mãe conta - a do "tiu Xastre", que um dia aqui relatarei.
Picão sobre o Douro, em cuja base se situa a gruta onde se abrigavam as ovelhas e que só é acessível por via fluvial.
A boca, ou entrada, do buraco do Padre António, a cerca de 2/3 metros de altura do solo.
 
Foto tirada do interior do buraco em direcção ao rio. Pormenor curioso tem a ver com o recorte na parede lateral, cuja configuração se assemelha ao mapa de Portugal (zona de Lisboa).
O interior do buraco terá cerca de 2 metros quadrados. O acesso não é fácil. Apenas eu e o António lá subimos (e eu só o fiz após insistência dele, porque não se me afigurava tarefa muito segura). O local é ideal para esconder algo ou alguém, que passaria perfeitamente despercebido na paisagem envolvente. Quando se sai do buraco e se sobem escassos metros, pode avistar-se, recortada no horizonte a "Fraga dos Borrachos", que seria o esconderijo alternativo do padre.
A "Fraga dos Borrachos" é a protuberância que se vê no topo da linha de horizonte da imagem (no centro), conforme se vislumbra das redondezas do buraco.
Fotos: Antero Neto

Panorâmica do acesso ao local onde se situa o buraco.
Eu, em pleno buraco.
Idem.
António Martins a descer do buraco.
As dificuldades e o risco são evidentes.
Fotos: Isaías Cordeiro.

E à partida de Bemposta para Mogadouro, o panorama era este...

Foto: Rita Lopes.