sábado, 1 de julho de 2017

E porque estamos em semana de homenagem aos Távoras...

E porque estamos em semana de homenagem mogadourense à família dos Távora (no âmbito do Festival da Terra Transmontana, que irá de correr de 7 a 9 de Julho), que deteve a propriedade do concelho durante aproximadamente 350 anos, vou deixar aqui alguns episódios menos conhecidos, mas que também fazem parte da História. Começo por um raro exemplo de fina ironia da realeza:

Brasão da família Távora existente no concelho de Mogadouro.

Cópia da uma carta que o Secretário de Estado Diogo de Mendonça Corte Real escreveu ao marquês de Távora, António Luís de Távora, por haver fugido da sua vila de Mogadouro quando os espanhóis surpreenderam a cidade de Miranda em 1710.
«Sua Magestade que Deus guarde hé servido mandar dizer a V. Ex.ª que foi muito do seu real agrado que á primeira surpreza de Miranda se retirasse V. Ex.ª do Mogadouro tão cuidadosa e aceleradamente que não tivesse o mais leve perigo sua pessoa; porque ainda que com aquelle successo e fugida de V. Ex.ª hé certo que se consternarão os Povos e ao seu exemplo desertavão os lugares temendo a furia do inimigo que facilmente poderião rebater; todavia Sua Magestade preza mais a segurança da pessoa de V. Ex.ª e a certeza de que se tirou sem mais lezão que a sua antiga manqueira do que sente toda a ruina que nessa provincia pela invazão dos castelhanos experimentarão seus vassallos com injuria da sua Coroa. E portanto lembra a V. Ex.ª que sempre que houver semelhantes occazioens se ponha em cobro sem risco seu porque hé muito necessaria a sua pessoa para authoridade da nobreza, para credito da Nação e para ornamento da sua real capella de que tem feito a V. Ex.ª superintendente com exercicio de prioste. Cá se dice que achando-se V. Ex.ª nessa provincia em que hé tão grande senhor que com poder despotico e absoluto uza do seu e do alheio devia deixar-se inflamar de algum eroico espirito que como filho de seu pay conservase para acudir pela reputação portugueza; e que pondo-se a cavallo podéra convocar os seus vassallos e os mais povos que a seu exemplo correrião voando e em caminhos tão apertados com facilidade poderião disputar o passo ao inimigo e impedir-lhe os progressos, hostelidades, estragos, violencia e confusão que padecerão as terras que elle talou [e] destruhio: e hé certo que intentando V. Ex.ª huma façanha tão gloriosa poderia sem dificuldade grande consegui-la; mas porque poderia tão bem haver algum perigo em tal empreza foi mais seguro o arbitrio de fugir. E visto que V. Ex.ª preza tanto a vida que a antepoem ao credito e á honra Sua Magestade lhe faz merce de mais duas vidas nas terras da Coroa e ordens. Huma só couza manda estranhar e hé que estando ha tantos annos na provincia ainda achassem nella que levar os inimigos quando se entendia que a madura ambição de V. Ex.ª e as ligeiras rapazias do senhor conde de S. João seu filho terião em melhor arrecadação os erarios particulares como descendentes daquelle antigo leão do qual posto que lhe deixou a coroa sempre conservão as garras. Deus Guarde a V. Ex.ª muitos annos.
Paço 20 de Julho de 1710.

Diogo de Mendonça Corte Real».

Fonte: "Memórias arqueológico-históricas do Distrito de Bragança...", Vol. IV - Abade de Baçal.